Por Idete Zimerman Bizzi, médica, psiquiatra e psicanalista
Dia 10 de setembro é o dia mundial da prevenção do suicídio. Muito se ouve dizer que “quem ameaça se matar só quer chamar a atenção”, ou que “é melhor não perguntar nada, porque daí sim a pessoa resolve se matar”. As evidências científicas apontam para outra realidade: quem ameaça tirar a própria vida provavelmente o fará em algum momento, se não obtiver ajuda, e falar sobre o assunto, de forma respeitosa e interessada, trará benefício.
A campanha Setembro Amarelo disponibiliza em seu site uma cartilha para alertar e educar sobre o tema. Sabe-se que idosos e jovens têm maior risco de suicídio do que a população em geral; o Rio Grande do Sul tem um índice de suicídio superior aos demais estados brasileiros; os grandes fatores de risco são transtornos de humor (depressão, bipolaridade), abuso de drogas e álcool, e outros quadros psiquiátricos.
A maior parte dos desesperos humanos têm solução e tratamento, que passam por medicação, rede de apoio e psicoterapia. Diversos problemas de saúde tratáveis podem levar a quadros psiquiátricos importantes, dentre eles anemia, hipo ou hipertireoidismo, para efeitos de várias medicações, os quais podem ocasionar quadros confusionais, psicose, depressão ou mania. Quem sofre pode não saber o que fazer, mas o profissional de saúde saberá.
Todo indivíduo tem dentro de si partes sadias e partes adoecidas, amores e ódios. Quando, por motivos diversos, as partes sombrias adquirem força e se alastram, instala-se uma tirania da destrutividade e uma solidão sem nome. A morte auto-infligida, seja com o propósito de dar cabo ao próprio sofrimento, seja para cumprir a fantasia de agredir ou mobilizar as outras pessoas, é sempre um ato desesperado, permeado por grande sensação de desamparo.
As tentativas de suicídio são habitualmente precedidas de sinais, avisos que nem sempre são valorizados ou reconhecidos, o que intensifica a sensação de solidão e vazio em quem sofre. Desesperado está quem não mais espera ser escutado, não porque nunca tentou, mas sim porque desistiu. O momento de falar/escutar é importante, delicado, requer comprometimento, empatia e seriedade. O ser humano que é ouvido pode admitir sofrer e tem condições de aguardar, acompanhado, que ventos mais favoráveis soprem.