Agiu com sensatez o governo Eduardo Leite ao cancelar a operação de venda de parte das ações ordinárias do Banrisul. É notória a situação de emergência financeira do Estado, com falta de recursos para pagar salários e outros compromissos de curto prazo, mas seria equivocado se desfazer de uma parcela importante dos papéis do banco por valores muito abaixo do que seria justo apenas para tapar os buracos mais urgentes cavados pelo desencontro crônico entre receitas e despesas ordinárias do Piratini.
O Banrisul é o mais valioso patrimônio estatal do Rio Grande do Sul. Vender as ações por um preço considerado satisfatório já era uma estratégia duvidosa, por ser apenas um desafogo de fôlego curto. Levar adiante a oferta pelas condições propostas pelos investidores interessados seria um erro grave. Foi prudente, portanto, o recuo. Afinal, não há ingênuos no mercado financeiro. Sabedores da situação desesperadora do caixa do Estado, seria natural uma tentativa para tirar vantagem. E era um dever de Eduardo Leite dar um passo para trás. Desajuizado e lesivo seria insistir na operação apenas para cumprir a promessa de campanha de colocar os vencimentos do funcionalismo em dia até o final de 2019, mesmo que, oficialmente, os recursos, inicialmente projetados em R$ 2,2 bilhões, seriam destinados a pagar passivo de custeio. Não seria o ideal, de qualquer forma.
Levar adiante a oferta de ações do Banrisul pelas condições propostas pelos investidores interessados seria um erro grave
Ao mesmo tempo, reabriu-se a discussão sobre a possibilidade de privatizar o Banrisul, um tema sensível pelas resistências políticas e pelo próprio apreço dos gaúchos pela marca. Pela lógica, seria uma forma de valorizar ainda mais os papéis do banco, uma vez que, nestes casos, os investidores aceitam pagar o chamado prêmio pelo direito de controlar o negócio. Ser sócio minoritário de um Estado em apuros, por outro lado, normalmente não é algo percebido como uma oportunidade dos sonhos.
Sem querer comprometer-se pessoalmente com a ideia, o que seria contrariar um discurso de campanha, Leite passou a responsabilidade de analisar o tema para a Assembleia, onde há uma porta aberta. Tramita na casa uma proposta de emenda à Constituição para privatizar sem a necessidade de consulta à população estatais como o Banrisul, a Corsan e a Procergs. Em uma democracia, não há mal em se fazer qualquer debate, pesando prós e contras. Mas, como admite o governador, alienar o Banrisul não será a solução para os problemas medulares do Estado. É preciso consertar a estrutura do gasto público para que caiba nas receitas. Caso contrário, o vertedouro do dinheiro permanecerá aberto e nenhuma venda de patrimônio será suficiente.