Por Francisco Thomaz Telles, advogado
Uma discussão que não tem mais como ser adiada, apesar do silêncio ensurdecedor das autoridades, é a de qual enfrentamento das drogas devemos fazer, se essa política proibicionista pura e simples que já dura décadas, ou, então uma política de redução de danos no sentido mais amplo da palavra.
Diz-se que a diferença entre o remédio e o veneno é a dose. Está aí uma boa pista de como enfrentar a questão.
Posto que as principais substâncias que movimentam o mercado de drogas são a cocaína, o crack e a maconha – são rios subterrâneos de dinheiro, além de rios de sangue inocente derramado à luz do dia – cabe àquele que tenha coragem de se debruçar sobre esse assunto eleger quais drogas de fato merecem ser o alvo preferencial das ações de Segurança Pública e, então, traçar estratégias.
É aí que entra a estória do remédio e do veneno.
A discussão mais candente que existe em matéria de drogas no Brasil é se devemos ou não legalizar a maconha, tal como feito há anos em países desenvolvidos. O principal argumento de setores contrários à legalização, sobretudo na área médica, é lastreado nos riscos do consumo da erva antes dos 21 anos, como o aumento da chance de se desenvolver psicoses e até a esquizofrenia. Mesmo o fundamental e inadiável debate do uso medicinal da cannabis sofre os efeitos desse verdadeiro interdito proibitório.
Enquanto isso, na vida real, pacientes de doenças crônicas e degenerativas definham e suplicam ao Estado Brasileiro pelo direito de seguirem vivos com a ajuda da cannabis e seus derivados. Isso sem falar nos milhões de usuários recreativos da droga, que estariam felizes e orgulhosos em contribuir com seus impostos para uma sociedade melhor.
Mas o pessoal da caneta quer que a coisa continue exatamente como está: drogas sendo vendidas pelas mãos de traficantes, jamais pelo Estado, que deve proteger a população, eles dizem.
(Um minuto de silêncio pela vida da Ágatha Félix).
O problema é que a solução não passa pelo silêncio. Pra que haja uma efetiva mudança, não há outro caminho que não o de usar as drogas a nosso favor. Adiem o quanto quiserem, não tardará pra que este país, cujas prioridades vêm sendo a aprovação pelo Senado do caçula do presidente na Embaixada nos EUA, legalize a maconha! Se tem uns por aí com coragem de brandir "armas pela vida", eu, puxando ar dos meus pulmões, respondo: maconha pela vida!