Os números mais recentes relacionados à criminalidade, uma das maiores chagas do Brasil, dão esperança de que o momento mais agudo da insegurança no país já tenha passado. Mesmo que os indicadores ainda permaneçam longe dos patamares ideais ou próximos do que poderia ser considerado um nível aceitável, deve ser comemorada – com a devida parcimônia – a queda nas mortes violentas no Brasil no primeiro semestre, mantendo uma tendência observada desde o ano passado, após os angustiantes resultados de 2017. O levantamento integra o Monitor da Violência, parceria do portal G1 com o Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (USP) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. De janeiro a junho, foram registrados 21.289 assassinatos no país, recuo de 22% no cotejo com o mesmo período do ano passado.
Há um mérito coletivo de Estados, governo federal e sociedade e um dos melhores resultados veio do enfrentamento às facções nos presídios
Uma das boas notícias foi que todas as regiões do Brasil apresentaram diminuição nas ocorrências do gênero, sinal de que não é um fenômeno localizado, mas disseminado por todo o território nacional. O Rio Grande do Sul apresentou um quadro semelhante. Foram 1.017 casos na primeira metade do ano, conforme o levantamento, uma retração de 23% ante o primeiro semestre de 2018.
Há um mérito coletivo de Estados, governo federal e sociedade no refluxo da violência. Um dos melhores resultados veio do enfrentamento às facções, principalmente com transferências e isolamentos dos líderes das organizações criminosas, além do melhor controle sobre os presídios do país, onde o trabalho de inteligência foi essencial. Os recordes na apreensão de drogas em 2019, lembrou bem o ministro da Justiça e da Segurança Pública, Sergio Moro, é outro indicativo de que as forças da lei aumentaram a pressão sobre as quadrilhas.
Mesmo assim, há espaço e necessidade para ampliar o combate à criminalidade. Entre os especialistas que trabalharam no levantamento, existe a percepção de que parte do recuo dos números de mortes violentas também pode ter relação com a própria reacomodação entre os grupos rivais, especialmente os ligados ao tráfico, uma vez que as disputas por território e mercado costumam gerar violência e mortes. Os responsáveis pelo monitoramento ponderam ainda que, no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul, por exemplo, foram descobertos cemitérios clandestinos, levantando a hipótese de que os números reais sejam um pouco superiores aos oficiais. Embora o país deva celebrar o que parece ser uma inflexão na barbárie, os números seguem altos. Afinal, uma pessoa é morta a cada 12 minutos no Brasil.