Por Débora Ortiz de Leão, professora da UFSM
Uma pedagoga a ponderar sobre neoliberalismo? Sim. Uma cidadã. Uma profissional atenta às políticas públicas educacionais. Uma professora que se preocupa com os rumos da sociedade e da educação pública do seu país. E foi exatamente a partir de estudos, pesquisas e trabalhos em uma universidade pública que passo a compreender o neoliberalismo como um "complexo, incoerente, contraditório e muitas vezes instável conjunto de práticas organizadas em torno de uma ideia de mercado como a única base para a universalização das relações sociais".
Esse modo de organização social e política, com base na mercantilização, no acúmulo de capital e na geração de lucro, penetram de forma espantosa cotidianamente em nossas vidas. Corrói qualquer possibilidade de estabelecer relações que não envolvam algum tipo de vantagem. Tudo deve ser negociado, tudo deve ser vantajoso para alguém. "Neoliberalismo é sobre dinheiro e mentes" afirma Stephen Ball (2014).
Não por acaso observa-se o uso de uma linguagem em uma gama de conceitos e compromissos estabelecidos e continuamente reafirmados, como por exemplo: inovação, empreendedorismo, soluções de mercado, governo limitado, reduções fiscais, etc. De qualquer maneira, o ponto chave é fazer do mercado a solução óbvia para todos os problemas sociais, políticos, econômicos e, consequentemente, educacionais.
Que essas ideias façam parte de uma lógica naturalizada em alguns segmentos é até compreensível, pois sobrevivem do mercado. Mas, quando a ganância é maior do que o amor ao seu país e ao seu povo (o que a meu ver, difere da noção atual de patriotismo), se defende a mesma lógica em todos os setores, inclusive o setor público educacional. Essa não é uma consequência óbvia. Essa é uma opção.
Como imagino que não há espaço para ingenuidade nesse contexto, a lógica mercantilista já é possível ser observada de forma perversa: fala e age por meio das linguagens, dos propósitos e das decisões que são tomadas em prol da educação. Estabelecem-se acordos e parcerias duvidosas. Não mais importa as consequências desastrosas. O importante é que tudo seja eficiente e eficaz, como uma fábrica ou empresa em que se investe X para se obter o retorno de XXX.
Assim, por meio de mudanças endógenas na forma de organizar o setor público educacional, estabelecem-se as bases para uma substituição exógena – a privatização – que, em última análise, é o objetivo de uma reforma política e econômica que tem como foco as mentes e o lucro nesse setor. Em um contexto neoliberal, a defesa de uma "educação pública, laica, gratuita, de qualidade e socialmente referenciada" passa a ser defesa de uns poucos que, ao ingressarem nas escolas e universidades públicas assumiram esse compromisso. Para os demais, se não gera vantagem, não serve para nada.