Por Luiz Henrique Viana, deputado estadual (PSDB)
Invariavelmente, pouco sabemos do mundo do outro – mesmo daquele que está mais próximo a nós. Cumpre-nos, portanto, olhar para fora sempre com certa cautela. Cumpre-nos, em outras palavras, evitar julgamentos – os mais apressados, principalmente. Porque é facílimo errar a mão, o gesto. Com os autistas e seus familiares, por exemplo.
Felizmente, temos conversado mais sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Quanto mais diálogo formos capazes de promover, menos estaremos propensos a ferir e a excluir. No trabalho feito na Frente Parlamentar de Conscientização sobre o TEA, proposta por mim na Assembleia Legislativa, nos deparamos com os relatos mais diversos. Uns, lindíssimos. Outros, sofríveis.
Há alguns dias, uma mãe – visivelmente fragilizada e cansada – comentou: "Tentaram impedir meu filho diversas vezes de ser atendido prioritariamente com o argumento de que ele não tinha 'cara de autista'." Terrível. Resta-nos muito a avançar. O autismo não tem rosto. É um transtorno, não uma síndrome; um espectro amplo, não uma redução simplista.
Ainda que se desconheçam exatamente as causas do Transtorno do Espectro Autista, um ponto é pacífico: a importância da intervenção precoce. Quanto mais cedo houver o diagnóstico e se começar o tratamento, que envolve estímulos multidisciplinares, melhor será a comunicação da pessoa com TEA, seu desenvolvimento e sua socialização.
O Centro de Atendimento ao Autista Doutor Danilo Rolim de Moura, da prefeitura de Pelotas, é referência nesta intervenção precoce. Não à toa, algumas famílias têm trocado de região do país (sim, do país) e rumado ao extremo Sul – com pouco dinheiro, mas muita esperança – para que seus filhos tenham acesso a um atendimento público especializado e de alta qualidade.
A política pública de atenção aos autistas e seus familiares, implementada em Pelotas ainda no governo do então prefeito Eduardo Leite, felizmente deve ganhar o Estado. A secretária estadual de Saúde, Arita Bergmann, já deu início às reuniões para pensar com diversos agentes, a partir da exitosa experiência pelotense, modelos de centros Rio Grande do Sul afora.
Devemos celebrar as iniciativas do poder público e nos envolver cada vez mais com esta causa. Não de um partido, de um deputado ou de um governo, mas de toda a sociedade.