Pode estar ao alcance do presidente Jair Bolsonaro uma grande iniciativa capaz de tirar a economia brasileira do estado de torpor. Não se trata de nenhum plano mirabolante para incentivar o consumo ou o investimento, ou uma política para apoiar este ou aquele setor. Palavras e gestos, neste momento, têm um poder muito maior. O Banco Central (BC) mostrou na sexta-feira que, em julho, o indicador conhecido como prévia do PIB mais uma vez decepcionou. A retração de 0,16% do IBC-Br em relação a junho atesta o quanto a recuperação da economia está errática, com a oscilação de indicadores positivos e negativos. No acumulado de 12 meses, o avanço da atividade segue anêmico, com um parco crescimento de 1,07%.
A esta altura do ano, fica claro que as medidas já tomadas pelo Ministério da Economia e sua elogiada equipe não foram suficientes para trazer algum alento aos agentes econômicos no curto prazo. Olhando para um horizonte mais amplo, é lógico que as reformas vão ajudar a oxigenar o país, dar a segurança de que o Brasil seguirá solúvel e terão a capacidade de melhorar o ambiente de negócios. Mas os mais de 12 milhões de desempregados, as famílias endividadas e as empresas em dificuldade por absoluta falta de demanda exigem uma resposta célere. A liberação do FGTS, que pode dar algum impulso ao consumo e ajudar a amenizar a inadimplência, tende a ter efeito pequeno frente ao tamanho do desafio.
A virulência do presidente e do seu entorno assusta potenciais investidores estrangeiros, o que já começa a ser percebido e a entrar nas contas de analistas do mundo dos negócios
O que falta para o Brasil é um ambiente de maior confiança. Essa espécie de mão invisível – capaz de empurrar ou segurar a economia – atua hoje como um freio, como consequência das crises gestadas pelo próprio governo, alimentando uma atmosfera de instabilidade política. Incertezas atuam como inibidoras da tomada de decisões. A retórica virulenta do presidente e do seu entorno, ao mesmo tempo, assusta potenciais investidores estrangeiros, o que já começa a ser percebido e a entrar nas contas de analistas do mundo dos negócios.
A artilharia verbal de Bolsonaro em temas como o ambiente causa estragos na imagem brasileira no Exterior e faz pairarem sobre o agronegócio, o setor em que o país é mais competitivo, ameaças de boicotes. O embate com outros líderes mundiais apenas atrapalha. No front interno, a incitação à radicalização não vai criar um emprego sequer, tampouco fazer a indústria produzir mais ou o comércio ver suas vendas aumentarem. Ao contrário. O mesmo vale para o excesso de ruído com os demais poderes. O grande plano do governo para a economia passa por um simples exercício de humildade do presidente, com a moderação do discurso e atitudes que incentivem a pacificação, e não a desavença, entre os brasileiros.