Por Marcelo Carneiro da Cunha, jornalista, escritor, filho de Cristovam, irmão dos meus irmãos, pai do Manuel
Nessa sexta-feira, 27 de setembro, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul homenageia o desembargador Cristovam Daiello Moreira dando o seu nome ao prédio que abriga a Escola Superior de Magistratura da AJURIS, e o Centro de Formação e Desenvolvimento de Pessoas do Poder Judiciário do Rio Grande do Sul.
Posso afirmar com toda a segurança que essa é a maior homenagem que o desembargador Daiello, falecido em 2018, poderia receber, e a que maior felicidade poderia trazer a um homem que viveu, respirou, existiu para que a Justiça do Rio Grande do Sul fosse o que é: uma referência de qualidade e seriedade no Judiciário brasileiro.
Eu posso afirmar isso com toda a segurança porque Cristovam Daiello Moreira foi juiz na maior parte da sua vida, e meu pai por toda a minha. Ele amava muitas coisas, mas o seu amor absoluto foi esse Tribunal, e a sua maior realização foi ter participado da construção da Escola, cujo prédio ganha oficialmente o seu nome, por uma solicitação da Associação dos Juízes do RGS, atendida pelo Presidente do Tribunal de Justiça.
É uma experiência única para um filho ver o seu pai se converter em nome do prédio onde funciona uma das melhores escolas de magistratura do país. É um tanto dificil entender que o nosso pai se propaga para além do que nós, filhos, conhecemos. Filhos costumam achar que os pais são seus. No caso do meu pai, ele era, mas também era, de outra forma, um fllho da Justiça gaúcha.
Quando ele morreu, fomos surpreendidos pela forma como o Judiciário e a Associação dos Juízes do RGS o envolveram e cuidaram. Famílias costumam ter essa passagem como algo pessoal e íntimo. Mas, ao vivenciarmos o que o foi criado para ele pelos seus pares, o espaço, a homenagem, o carinho dos colegas do passado, sentimos que o momento era maior, e do tamanho do juiz que ele tanto se orgulhava de ter sido, de ser.
Meu pai era um homem frugal, muito frugal, o que dava ao Natal lá em casa a sensação permanente de um presépio vivo. Nunca deu atenção para bens materiais, e a sua herança, toda ela, se converteu em legado. A maior parte dele, na forma do seu trabalho pela evolução do Judiciário do RGS. Ter participado da criação dessa Escola era o maior orgulho desse homem tão desprovido de interesse pelo que fosse material. Ter o seu nome eternizado diante desse lugar é o maior reconhecimento que ele jamais poderia ter esperado, ou recebido.
De nossa parte, meus irmãos e eu queremos agradecer aos que tornaram isso possível. Tais demonstrações de respeito e apreço engrandecem a todos, especialmente aos generosos e justos o bastante para realizá-las.