Por Tiago Dimer, jornalista, superintendente de Comunicação e Cultura da Assembleia Legislativa do RS
Somos movidos por nosso etnocentrismo. Essa afirmação pode ser diferentemente interpretada. Primeiro, é importante entender essa palavra pouco utilizada no dia a dia. Ela tem traduções e significados comuns para nós, gaúchos. Orgulho, respeito às tradições, exaltação ao nosso povo. Mas, de maneira mais detalhada, é uma perspectiva de mundo de quem acredita que sua etnia, seu Estado, nação ou nacionalidade são mais importantes do que os demais.
Conhecendo mais a palavra, tenho certeza de que a afirmação que inicia o texto vai provocar debate. Nós, gaúchos de todas as querências, trabalhadores, aqueles das façanhas que servem de exemplo, somos mesmo superiores? Ou acreditamos que somos?
Já vivi em diversos lugares, diferentes cidades e . Convivi com outras culturas. E posso afirmar. Nenhuma é melhor do que a outra. Culturas são a essência de cada povo. Suas vivências e aprendizados desde o nascimento. Como seria possível imaginar comer um cachorro? Se você fosse chinês, não seria algo extraordinário.
E sair do trabalho às 16h para ir à praia? Um absurdo para muitos, coisa de vagabundo. Mas se você morasse no Nordeste e acordasse às 5h para trabalhar, isso seria natural.
Enquanto tivemos presidentes, esportistas, farrapos e desbravadores, nosso desenvolvimento ficou nos livros de História. E com as redes sociais ficamos ainda mais orgulhosos de nossos pensamentos, intelectualizados por quem aproveita o inverno para ler um bom livro. Nossas façanhas já são passado, não se traduzem no presente.
Voltando ao etnocentrismo, precisamos avaliar o quanto essa perspectiva de que somos melhores vem nos prejudicando ao longo dos anos. Santa Catarina sempre foi menosprezada, mas agora começa a servir de exemplo. Tenho minhas dúvidas sobre se a constatação é verdadeira, ou ainda algo jogado ao vento como um perdão sem mudança. Compreender que não se é melhor do que ninguém é uma dádiva nada fácil de ser alcançada. Afinal, a humildade é o primeiro passo para a sabedoria.