É uma catástrofe para o futuro do país a crise que paira sobre o financiamento à pesquisa sob responsabilidade do governo federal. Além do corte de novas bolsas de iniciação científica anunciado no começo da semana pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), ligada ao Ministério da Educação, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), vinculado à pasta da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, tomou a mesma decisão e inclusive os atuais beneficiados podem ver a verba que recebem acabar a partir deste mês.
Embora atinja todo o país, a situação é ainda particularmente ruinosa para os gaúchos
A falta de recursos que ameaça paralisar parte dos projetos de pesquisa em andamento no país, em sua maioria conduzidos por bolsistas, amplia o atraso brasileiro na corrida global pelo desenvolvimento da ciência, um pilar de qualquer nação rica ou que pretenda trilhar o caminho do progresso. É um retrocesso a ser lamentado. A produção de conhecimento, interrompida de forma abrupta, pode levar anos para ser recuperada.
Deixar a pesquisa à míngua afeta toda a sociedade brasileira, apesar de muitas vezes os resultados não serem visíveis no curtíssimo prazo. Trabalhos que poderiam resultar na cura de uma enfermidade, em um novo medicamento ou em um processo tecnológico revolucionário para a indústria podem ser congelados ou até ir para a lata do lixo. É a verdadeira soberania do país em jogo. Sem amparo à ciência, o Brasil corre o risco de ficar a reboque das descobertas – que um dia foram experimentos – produzidas em outros países, transferindo riquezas, limitando-se a ser um mero mercado consumidor e condenado a ser apenas um produtor e exportador de commodities. Enquanto isso, assiste-se, de braços cruzados, à fuga cada vez maior de cérebros para o Exterior, outra tragédia e consequência do desestímulo à investigação científica.
Embora atinja todo o país, a situação é ainda particularmente ruinosa para os gaúchos. O Rio Grande do Sul, atrás apenas de São Paulo, é o segundo Estado que terá mais bolsas da Capes cortadas.
Mesmo que o quadro derive da frágil situação fiscal brasileira, com cortes de recursos disseminados por outras áreas, no caso específico da pasta da Educação, que abriga a Capes, passou da hora de o ministro Abraham Weintraub apresentar uma política clara para a área. Por enquanto, Weintraub tem se notabilizado mais pela pirotecnia e provocações em redes sociais. Realimentando controvérsias desnecessárias, passa a impressão de estar mais preocupado em agradar ao chefe do que em traçar e implementar um projeto consistente para melhorar o ensino no Brasil.