Por Gabriela Ferreira, líder de Impacto Social no Tecnopuc e diretora técnica da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec)
A inovação é uma prioridade para os executivos de hoje. No cenário empresarial, quase é possível dizer que virou moda. Associada ao desenvolvimento de novos produtos, o seu real significado pode ser entendido como todas as formas de mudanças que promovem o melhor atendimento das necessidades da sociedade. Em um contexto de transformações cada vez mais rápidas, inovar, fundamental para a competitividade empresarial, é muito mais sobre processos do que sobre novos produtos.
De acordo com pesquisa da consultoria ACE Startups, no seu relatório de 2019, um dos principais desafios nas empresas diz respeito à cultura de inovação. Mais da metade (53%) das empresas brasileiras não tem liderança específica nem governança orientada para esse tema. Não é de se estranhar que 75% delas tenham uma percepção de que sua inovação é baixa ou moderada. Os resultados mostram, ainda, que os CEOs (líderes) acham que estão bastante engajados em inovar, enquanto a média gerência considera que falta atuação e envolvimento das lideranças com esse objetivo.
Para inovar, mais do que a decisão estratégica, são necessárias capacitação, metodologias e mensuração de resultados. Além de ferramentas, existem dois grandes desafios: a tolerância ao erro e o exercício de cooperação. Uma organização estrutura seus processos para evitar o erro, mas, ao trabalhar com inovação, a probabilidade de que ele ocorra é grande. Colaborar onde culturalmente a figura do vencedor (no singular) é forte também pode parecer contradição.
Um relatório da União Europeia sobre locais de trabalho inovadores tratou, já em 2014, desses aspectos, definindo-os como fundamentais para promover a inovação. Nele ressalta-se que uma "cultura de erro positivo" significa que é permitido cometer erros, quando os funcionários estão prontos para aprender com os mesmos. Também a "cultura de equidade e imparcialidade" é enfatizada como forma de garantir a cooperação interna (interfuncional e cross-hierárquica) necessária para inovar. Os rankings da Forbes para o mundo, do INC 5000 nos EUA, e do Valor Inovação no Brasil, mostram a mesma coisa: as empresas mais inovadoras têm em comum o fato de investir no desenvolvimento de uma cultura forte de inovação, mais do que em tecnologia ou processos específicos. Então, vamos nos aculturar?