Por Pedro Schetatsky, neurologista, professor da Faculdade de Medicina da UFRGS, Pós-Doutorado em Harvard
Criar saúde é diferente de tratar doenças. Construir um sistema de saúde baseado no tratamento de doenças tem se mostrado um mau negócio nos últimos anos, tanto do ponto de humanitário quanto financeiro.
Nunca se gastou tanto por tão pouco, e isto se deve em grande parte ao modelo médico paternalista vigente. No entanto, pela primeira vez na história nossos netos viverão menos do que nós. Motivo: abundância de comida processada, sedentarismo e estresse. Para complicar, nós médicos teimamos em focar nossa energia no tratamento da doença ao invés de criação de saúde. Os EUA são o principal exemplo disso, pois é o país de maior tecnologia médica, mas de piores índices de saúde do mundo.
De fato, a saúde não está nos consultórios. A saúde está na casa das pessoas, especialmente nas cozinhas. Felizmente, a informação sobre saúde nunca foi tão disponível e a figura do "paciente passivo", que apenas seguia as ordens do grande detentor do conhecimento – o médico – está com seus dias contados. O paciente está cansado de deixar sua vida nas mãos dos planos de saúde, sistema publico de saúde ou de "pílulas mágicas". Ele quer ser seu próprio médico, embalado pela tecnologia exponencial.
A Medicina de Precisão, representada pelas novas tecnologias, não veio para substituir o médico ou a função de órgãos danificados ex., coração de plástico. Ela não vai tirar a responsabilidade do paciente sobre sua própria saúde ou terceirizar nossa saúde para outros profissionais. Ao contrário, a tecnologia vai empoderar o paciente para que seja finalmente o dono do seu próprio destino. Mas a melhor notícia é que esta tecnologia está cada vez mais acessível, por isto chamada de disruptiva. Basta possuir um smartphone, o maior banco de dados jamais visto na história da humanidade.
Parabéns leitor, seja bem-vindo à sua nova profissão: médico de si mesmo. Bem-vindo à Medicina do Futuro, ou simplesmente à Medicina 5Ps: preditiva, preventiva, proativa, personalizada e o "P" que eu mais gosto – parceira. Ou seja, o médico não será mais uma autoridade inquestionável, mas sim uma espécie de "curador" de fake news e de dados gerados pelo corpo do próprio paciente, tais como bio-sensores, análise do genoma, microbioma, transcriptoma e outros omics. Na sala de espera dos consultórios em breve ouviremos a secretária se dirigindo ao médico: "Doutor, o paciente pode vê-lo agora".