Cobrado pela demora em tomar medidas que tenham capacidade de tirar a economia do marasmo, o governo Jair Bolsonaro oficializou nesta semana uma bem-vinda iniciativa gestada há alguns meses para reduzir o preço do gás natural no Brasil, quebrando o monopólio na importação e no transporte e a posição dominante na produção e distribuição desse insumo essencial para a indústria do país. É o pretendido choque de energia barata, como define o ministro Paulo Guedes. A consequência natural dessa ação, se bem-sucedida, como se espera, será a ampliação dos investimentos na área pela entrada de novos agentes, gerando empregos e melhorando as perspectivas de o país retomar um crescimento mais robusto e duradouro.
Ter acesso a um insumo em cotações mais parecidas com as que são observadas no Exterior é imprescindível para a indústria retomar a competitividade
Os benefícios do programa não se resumem às fábricas. Tendem a chegar a todos os consumidores, uma vez que deve-se baratear também o gás de cozinha, um alívio para os brasileiros de renda mais baixa, que têm nos gastos com esse item um grande comprometedor do orçamento doméstico. Da mesma forma, são positivas medidas complementares, como o estudo em curso pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) para que a população possa ter o direito de comprar um botijão parcialmente cheio, uma possibilidade que também pode ajudar a aliviar as contas das famílias mais modestas, que muitas vezes chegam ao final do mês sem recursos para adquirir um recipiente cheio.
Voltando a analisar a questão sob a perspectiva da indústria, é inaceitável que o custo do gás natural, para as fábricas brasileiras, seja hoje o triplo do que pagam as concorrentes norte-americanas e cerca de 50% acima do preço praticado na Europa. Para um setor essencial da economia, ter acesso a um insumo em cotações mais parecidas com as que são observadas no Exterior é imprescindível para retomar a competitividade. Produzir gastando menos significa ainda a possibilidade de que todos os elos da economia, até o consumidor final, tirem proveito do chamado Programa do Novo Mercado de Gás.
O custo atual é resultado de um controle quase absoluto da Petrobras no setor. A abertura do mercado é salutar para a empresa e para o país. O Brasil ganha pela maior competição em cada segmento, da extração à distribuição, passando pelo transporte, por meio dos gasodutos. E a Petrobras, ao se desfazer de ativos que não fazem parte de seu plano de negócios, obtém recursos para diminuir o endividamento e investir em suas prioridades. Embora não tenha relação direta com o gás, um movimento neste sentido, a ser saudado, foi a venda de ações da BR Distribuidora, com a petroleira estatal deixando de ser a controladora da rede de postos de combustíveis, uma operação em que levantou R$ 8,6 bilhões. Enxuta e com um caixa mais saudável, a Petrobras pode centrar energias na produção de petróleo e gás, atividade em que detém competência comprovada.