Nem a crise nem a necessidade de reduzir custos podem ser usadas como justificativa para estabelecimentos comerciais e de serviços recorrerem à deplorável prática de furto de energia, como mostrou reportagem publicada na sexta-feira em Zero Hora. Apenas no caso da CEEE, que além de Porto Alegre atende a outros 71 municípios do Estado, a irregularidade faz a empresa amargar prejuízo anual de R$ 200 milhões, dinheiro que faz falta à companhia, sufocada por um alto endividamento.
Irregularidades podem ainda provocar incêndios que colocam em perigo comunidades inteiras
Outra grande concessionária do Rio Grande do Sul, a RGE combate o mesmo mal. No primeiro semestre, foram detectadas irregularidades do gênero em 23% das 54,5 mil inspeções realizadas, o que comprova a disseminação do crime. O problema é nacional, aponta a Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee). Em todo o país, a perda somada nos últimos dois anos chegou a R$ 17,5 bilhões, calcula a entidade.
A conta da burla acaba sendo dividida entre todos os consumidores. Se não existissem as fraudes, a fatura de cada um seria menor. Merece elogios a ação da companhia de encontrar as irregularidades e cobrar quem comete o delito, um trabalho escudado pela Polícia Civil, com a educativa detenção dos responsáveis pelos gatos e adulterações nos medidores.
O costume mostra ainda a sobrevivência de lamentável postura em parte minoritária da sociedade, em uma época em que se cobra de maneira firme dos representantes públicos uma postura mais ética. Mudanças verdadeiras de paradigma, sepultando de vez a chamada velha política, só serão possíveis se cada cidadão também fizer a sua parte e deixar de recorrer a trapaças para tirar vantagem. É necessário, portanto, apertar a fiscalização e punir exemplarmente.
Ligações clandestinas também são uma porta aberta para acidentes. Curtos-circuitos causados por gatos podem provocar o desligamento do sistema e a queima de equipamentos em uma grande área e, em casos mais graves, provocar incêndios que colocam em perigo comunidades inteiras.