Deve ser valorizada a postura da Câmara dos Deputados, como instituição, que tomou as rédeas do processo e conduziu a aprovação no plenário do texto-base da reforma da Previdência em primeiro turno, diante da falta de base sólida do governo e do pouco empenho do próprio presidente Jair Bolsonaro com a essencial mudança no sistema de aposentadorias do país. Feito o reconhecimento, é preciso também deplorar o esforço de setores do parlamento de tentar desbastar a essência da proposta de reduzir privilégios e desigualdades entre os brasileiros. Em alguns casos, lamentavelmente com o incentivo do Planalto.
Forçar a desidratação da reforma é atuar para não dividir a conta deforma igualitária
Pressionar e chantagear, ameaçando atrasar a votação em segundo turno, para atender a corporações que já têm prerrogativas mais vantajosas na comparação com os demais trabalhadores, é uma atitude que não põe o interesse do Brasil em primeiro plano. Torna-se um acinte aos trabalhadores mais humildes, que não têm bancadas fortes à sua disposição, principalmente os da iniciativa privada, que ao longo de sua trajetória laboral ainda estão sujeitos ao fantasma do desemprego. Forçar a desidratação da reforma é atuar para não dividir a conta de forma igualitária.
É verdade que vieram do chamado centrão os votos necessários para a aprovação da nova Previdência. Esse contingente amorfo de deputados, porém, não assegurou o apoio apenas por estar convencido da importância inadiável de alterar as regras dos benefícios. Boa parte da persuasão veio da liberação bilionária de emendas.
Era promessa de Bolsonaro abandonar o toma lá dá cá com o Congresso. O que se viu, no entanto, foi o governo ceder à prática fisiológica para conseguir a maioria exigida. Mesmo com o compromisso do presidente, o Brasil não conseguiu se livrar desse jeito torto de fazer política. Sem uma base firme no Congresso, não chega a surpreender que a fatura tenha chegado tão alta. O episódio da aprovação em primeiro turno na Câmara chama ainda atenção para os papéis desempenhados pelo presidente da Casa, Rodrigo Maia, e por Bolsonaro.
O primeiro teve postura sintonizada com as necessidades nacionais, assumindo o protagonismo de levar adiante uma agenda de país, ainda ontem empenhando-se para que os destaques não fizessem a proposta distanciar-se ainda mais da economia projetada de R$ 1 trilhão. Enquanto isso, o chefe do Executivo, quando não ignora ou apenas é superficial sobre a importância do tema, age mais como sindicalista de corporações do que como líder de uma nação.