Por Vera Rita de Mello Ferreira, psicóloga econômica, psicanalista e doutora em psicologia social ( PUC-SP)
Quem nunca sonhou em ficar milionário da noite para o dia? Saldar todas as dívidas?
Dizer adeus ao chefe e ir atrás de seus próprios projetos?
Quem nunca cobiçou "dinheiro grande, rápido e no mole"?
Alguns jogam na Mega Sena, outros trabalham duro. E há, também, aqueles que acreditam que exista uma maneira mais fácil de atingir aquele objetivo – colocar seu dinheiro em supostos "investimentos", que oferecem retornos muito acima do mercado, mas não passam de pirâmides financeiras. Esses golpes são antigos, rodam o país de tempos em tempos, frequentemente, concentrando-se em determinadas regiões, já que dependem de adesões obtidas no boca a boca. Quem recebe o retorno prometido num primeiro momento, se entusiasma e sai "contagiando" quem está à volta.
Do ponto de vista psicológico, o que pode ser observado nestes recorrentes fenômenos? Um primeiro ponto que chama a atenção é por que o golpe se repete, já que vem se tornando tão conhecido, sai na mídia com alarde etc. Três fatores podem ser apontados: humanos são, predominantemente, otimistas, é o que nos faz levantar da cama a cada dia e enfrentar os inevitáveis desafios; este otimismo, porém, pode se tornar excessivo e impedir a visualização de riscos no horizonte. Logo, para quê se precaver?
Adicionalmente, há também o problema da autoconfiança exagerada – a pessoa até consegue enxergar riscos, mas só para terceiros, pois fica incapaz de perceber ameaças que o envolvam diretamente; isso se deve a uma segurança, infundada, de que seria inatingível e livre de qualquer perigo. É comum, por exemplo, a pessoa dar-se conta de que pode ser pirâmide, de fato, mas acreditar que conseguirá "entrar e sair" sem maiores problemas, ou seja, acreditar que vai ganhar muito dinheiro antes que o esquema desmorone.
Por fim, há o conhecido comportamento de manada – em situações de incerteza, desconhecimento, quando alguma autoridade (que, em nossos tempos virtuais, pode ser um influenciador digital, um áudio no WhatsApp ou uma apresentação de Power Point caprichada) avaliza e, acima de tudo, quando aquela promessa de ganhos polpudos e fáceis cai como uma luva para o momento de cinto apertado que a pessoa vive, ela adere ao que acredita ser uma oportunidade única. Quando há dinheiro envolvido, se não aderir, como vê ou imagina que vários estão fazendo, vem a sensação de FOMO (fear of missing out), o medo de perder aquela chance. E o chamado viés de confirmação nos empurra a acreditar apenas naquilo que combina com nossas expectativas e crenças, mesmo que não passe de ilusão, ao mesmo tempo em que nos impede de considerar o que as contraria, ainda que seja real.
Além disso, devemos nos lembrar que somos, sempre, guiados por uma grande força inconsciente – o desejo – que não cessa jamais de nos impulsionar a buscar satisfação. Pode ser o novo celular, o novo parceiro/a, ou o dinheiro em profusão, que vem prometido na nova pirâmide.