Por Sophia Martini Vial, ex-presidente do Procons Brasil e ex-diretora do Procon de Porto Alegre
No atual momento experimentado pela sociedade brasileira, que clama por ética, transparência e renovação, a falácia da pureza reflete o sucesso das pirâmides financeiras. O consumidor é facilmente enganado e muitas vezes deixa-se enganar buscando fácil lucro e proveitos financeiros. A clássica dica dos órgãos de defesa do consumidor sugere que o cidadão desconfie de lucro fácil. A avareza, um dos mais cometidos pecados capitais, e o egoísmo em aproveitar-se de um momento inicial de pirâmide financeira precisam ser punidos pelo Estado.
Esquemas como o boi gordo, o avestruz master e a telexfree acumularam prejuízos aos consumidores de forma complexa, pelo ar de legalidade com um suposto produto atrelado. Recordo-me de ler a história de idosos pouco alfabetizados que sacavam integralmente sua aposentadoria para entrar no esquema telexfree, cujo suposto produto era um plano de ligações pela internet. É claro que níveis de desinformação atraem consumidores vulneráveis tecnicamente, mas destes não haveria expectativa diversa. O problema é aquele sujeito de má-fé que fatura em cima do outro.
A sociedade de consumo precisa passar por amadurecimento que envolve a sustentabilidade nas decisões financeiras. São 60 milhões de endividados e a busca por soluções rápidas mostra-se insustentável. A falta de educação financeira atrelada à complexa e ineficaz teia de regulamentação e à ausência de texto legal para o tratamento do superendividamento são fatores que influenciam na busca desenfreada por soluções fáceis. A operação Egypto é mais uma envolvendo criptomoedas, assim como foi o caso da Kriptacoin. Tornar-se investidor depende do arrojo, mas, para os principiantes, o feijão com arroz é mais recomendado. Se o consumidor pouco entende de investimento com seu dinheiro físico, investir em moedas virtuais pode ser uma furada. Órgãos de controle devem atuar de forma independente, mas falta a grande parte da população ética nas relações que perfaz. Sem ética não há consumo sustentável.