Por Fabio Berwanger Juliano, diretor-presidente interino da EPTC
No já distante ano de 1953, a escritora e ativista política Jane Jacobs publicou um artigo na revista The Fortune, de Nova York, intitulado A cidade é para as pessoas, o qual inicia com a seguinte afirmação: "Este será um ano crítico para o futuro das cidades."
A começar por este preâmbulo, várias questões ali discutidas caem como uma luva para o momento que vivemos em Porto Alegre. Um deles finalmente estamos construindo e superando, que é o aproveitamento da orla com seu imenso potencial de utilização, o que nossa cidade solapou de várias gerações de cidadãos, mas que agora não tem mais volta. A reflexão da americana dizia que o cidadão não precisava ser arquiteto ou urbanista para dizer o que quer de sua cidade, pois bastava ele caminhar por suas ruas e onde mais conhecesse para depois opinar, decidindo a configuração do futuro.
O projeto Ruas Completas que a prefeitura de Porto Alegre está implementando na rua João Alfredo incorpora este espírito: ouvir a comunidade e aplicar as ideias de seus frequentadores e moradores. O que queremos nesta importante rua da Cidade Baixa? Mudar o conceito hoje conflituoso? Faremos isso com livrarias, cafés, lojas, árvores, parklets, menos carros, mais calçadas? Com mais crianças e público não adulto? Bares e casas noturnas com uma vocação de pertencimento e responsabilidade ao novo espaço público compartilhado? Nunca é tarde para mudar e cada cidade tem seu tempo. O nosso chegou.
A sabedoria popular diz que reformar uma casa é mais complicado que construir uma nova. Jane Jacobs termina seu texto exatamente com esta colocação, que ao cabo é um desafio: "Projetar uma cidade dos sonhos é fácil; reedificar uma cidade viva exige imaginação." E vamos combinar que imaginação temos de sobra, mas precisamos não pessoalizar ou partidarizar nosso futuro.