Por Fábio Bernardi, sócio-diretor de criação da Morya
Certa vez, Henry Ford disse que pensar é o trabalho mais árduo que existe, e talvez seja esse o provável motivo porque tão poucos se dispõem a fazê-lo. Imagine o que ele diria se vivesse nos dias de hoje, em que é possível viver um estilo de vida tão digital que nem sequer necessitamos pensar. Na vida moderna, ninguém precisa mais colocar os neurônios em funcionamento para ter a ilusão de que está vivendo. Você sai de casa e não precisa pensar no caminho a fazer, o Waze faz isso e ainda te mostra onde o trânsito está melhor. Para que se lembrar do aniversário dos amigos se o Facebook te alerta na própria data? Escolher música é uma perda de tempo, basta colocar uma playlist do Spotify que seu gosto musical está lá, e com a vantagem de que quanto mais escuta, mais o algorítimo aprende o que você gosta de ouvir. Pensar na resposta de qualquer coisa já não é necessário, basta perguntar ao Google. Aprender uma língua nova também é um luxo. É só ter o aplicativo certo na próxima viagem. E a lista poderia encher páginas deste jornal.
O problema de tudo isso não é apenas estarmos delegando decisões demais para a tecnologia – e dando, também, informações demais de nós mesmos para corporações multibilionárias e não controláveis por ninguém. Pior do que isso, e de uma forma bem mais subterrânea e sutil, é que os mesmos algorítimos que nos definem também nos reduzem. Os insights, aqueles momentos em que ligamos os pontos e chegamos a algo novo, na maioria das vezes, tendem a acontecer depois de intensa interação social, observação e reflexão – após investigação, aprendizagem e envolvimento com o mundo. A maioria dos grandes momentos de criatividade é apenas a conexão de pontos diferentes e nunca agrupados anteriormente. Pessoas criativas são, antes de tudo, observadores hábeis em conectar informações de várias fontes de maneiras novas e surpreendentes. Empreendedores, pensadores e artistas usam suas próprias experiências e aspirações como um ponto de partida para criar o novo.
Portanto, quanto mais referências e vivências, maior a chance de aumentar os insights e a inovação. Quem entende essa habilidade muda sua perspectiva em qualquer situação, ambiente ou comunidade. Vira um profissional mais ágil, rápido, múltiplo e desejado.
Segundo o americano Bruce Nussbaum, uma das maiores autoridades mundiais em inovação, design e inteligência criativa, nós construímos um quadro para um determinado cenário aplicando significado e compreensão para o que vemos. Esta é uma ferramenta para a inovação, porque ao compreender como enquadramos algo, também podemos colocar essa narrativa em uma nova moldura – mudando, assim, a forma como vemos e interpretamos aquilo. Em resumo, é simples: quando seu mundo fica menor, sua criatividade fica menor.