Por María Elvira Domínguez, presidente da SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa), diretora de El País, Cali, Colômbia
Próximo do primeiro aniversário da revolta popular que foi afogada em sangue pelo governo de Daniel Ortega na Nicarágua, a repressão ainda é galopante e o diálogo acompanhado pela Organização dos Estados Americanos (OEA) e o Vaticano está em perigo.
A democracia agoniza na Terra dos Lagos e Vulcões e, com ela, o jornalismo independente também se encontra em extinção.
Esta semana, ao final de sua reunião semestral na Colômbia, a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) exigiu do governo de Manágua a libertação imediata dos jornalistas Miguel Mora e Lucía Pineda, presos desde dezembro sem o devido processo e que, segundo depoimentos de parlamentares europeus, sofrem tratamento desumano.
Desde abril de 2018, foram registrados mais de 700 ataques contra o exercício do jornalismo
O caso de Mora, diretor do canal fechado 100% Notícias de Manágua, é particularmente sensível. Algumas semanas antes de sua prisão, ele havia recebido o Grande Prêmio de Liberdade de Imprensa durante a 74ª Assembleia Geral da SIP, em Salta, em nome do jornalismo independente na Nicarágua.
A SIP também rejeitou a impunidade no assassinato do jornalista Ángel Gahona, ocorrido há um ano, e cuja investigação foi uma montagem para encobrir os responsáveis. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) outorgou medidas cautelares à esposa de Gahona devido a ameaças recebidas por denunciar a impunidade.
Desde abril de 2018, foram registrados mais de 700 ataques contra o exercício do jornalismo, a maioria cometida pela Polícia Nacional, multidões e civis armados adeptos de Ortega e sua esposa, Rosario Murillo. Essa perseguição forçou 66 jornalistas a se refugiarem no exílio, como foi confirmado em sua mensagem à SIP pela Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet.
No sábado passado, poucas horas depois de anunciar os primeiros acordos no diálogo entre o governo e a Aliança Cívica pela Justiça e Democracia, um defensor de Ortega atacou a tiros uma manifestação da oposição, com um saldo de três feridos. Na segunda-feira, o governo também não cumpriu o acordo que liberaria a alfândega para a impressão dos jornais La Prensa e El Nuevo Diario.
É claro que o governo nicaraguense usa o diálogo como uma tática de protelação, sem conceder um centímetro de espaço à oposição. Em questões de Justiça, ele insiste que os crimes perpetrados desde abril de 2018 podem ser investigados pela polícia, um dos agressores ou a Assembleia Nacional, totalmente controlada pelos líderes de Ortega e sua esposa.
O regime também rejeita a inclusão da CIDH e das Nações Unidas como fiadores dos acordos de paz. Ambos os órgãos de supervisão foram expulsos do país no ano passado depois de culparem as forças do governo por crimes contra a humanidade.
Dada esta situação, quando as opções para o resgate da democracia são reduzidas, a comunidade internacional tem a obrigação de se manter firme em torno do povo nicaraguense, que tanto se sacrificou pela sua libertação definitiva.
Este texto está sendo publicado em meios de comunicação de todo o continente, em um acordo ao qual Zero Hora se soma à convocação da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP).