"Não vamos desistir" apesar das consequências, afirmou o jornalista e diretor do fechado canal privado de televisão 100% Noticias da Nicarágua, Miguel Mora, preso em dezembro e acusado de "terrorismo" por informar sobre os protestos contra o governo de Daniel Ortega.
"Podem nos fechar, ameaçar, inventar processos, prender e até nos matar, porque já mataram um companheiro nosso, podem nos ferir com uma bala", mas "não vamos desistir", sustentou Mora em um vídeo postado no Twitter pelo deputado do Parlamento Europeu José Inácio Faria, depois de visitá-lo na prisão.
Com barba e cabelo comprido, Mora insistiu que "o compromisso do jornalismo digno na Nicarágua é manter a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa para que outras liberdades na Nicarágua possam retornar".
Mora recebeu na semana passada a visita de um grupo de eurodeputados na prisão El Chipote de Manágua, onde está recluso assim como sua diretora de imprensa, Lucía Pineda.
Ambos os jornalistas foram detidos em 21 de dezembro após uma batida policial na sede do canal, que liderou a cobertura televisiva dos protestos que eclodiram em abril contra o governo, cuja repressão deixou 325 mortos e mais de 700 presos.
Após a sua detenção, Mora e Pineda foram acusados pela Procuradoria de incitar ao ódio e à violência e conspirar para cometer atos terroristas, com base numa lei questionada que criminaliza os protestos. O julgamento está marcado para começar na quarta-feira.
Estão "em condições subumanas para presos de consciência nas prisões oferecidas pelo regime. Peço a liberdade imediata para esses cidadãos que não são criminosos", exigiu Faria.
Neste contexto, o jornalista Leo Cárcamo, crítico do governo e diretor de notícias da rádio Darío de León, ficou detido por várias horas nesta terça pela Polícia, mas depois foi libertado, informou o dono da emissora.
Cárcamo havia sido preso na cidade de León, 90 quilômetros a noroeste de Manágua.
"Leo está livre e estamos tratando-o e dando atendimento", disse em uma mensagem divulgada pelo WhatsApp o dono da rádio, Aníbal Toruño, que evitou por "prudência" dar detalhes sobre o ocorrido.
"O que o Leo sofreu nada mais é que a confirmação do terror e o ataque a jornalistas (por parte do governo) para seguir impondo a sua censura", acrescentou Toruño, exilado nos Estados Unidos por motivos de segurança.
Cárcamo, um crítico de Ortega, foi preso quando estava na porta da rádio, onde foi algemado e colocado em uma viatura, disseram seus colegas.
Toruño descreveu a prisão como "outro ataque" contra o rádio Darío.
A imprensa independente tem sido alvo de assédio e perseguição do governo durante a crise vivida no país.
Além do 100% Noticias, também foram fechados em dezembro os escritórios da revista Confidencial e dos programas de televisão Esta Semana e Esta Noche, dirigidos pelo jornalista Carlos Fernando Chamorro, recentemente exilado na Costa Rica.
* AFP