Por Cassio Grinberg, sócio da Grinberg Consulting
O mundo corporativo tem experimentado o modelo de “empresas sem chefes”. A Patagônia, marca de roupas e equipamentos para escalada, permite, desde a década de 1970, que os funcionários parem o que estiverem fazendo para irem surfar. Na Netflix, os funcionários tiram férias quando bem entendem. Mas o que acontece quando essa cultura de “empresas sem chefes” é a base do genoma de um país inteiro?
Enquanto você lê este texto, estou em Israel como curador de uma semana de imersões oferecidas por um cliente nosso a sua própria rede de clientes e parceiros comerciais. Estamos sendo enriquecidos com experiências em startups, teremos aula na Universidade Hebraica de Jerusalém e, inclusive, conheceremos uma unidade do exército, onde existe uma visão única acerca do conceito de hierarquia.
No exército israelense, um “superior hierárquico” respira o propósito de identificar talentos e empoderar para a tomada de decisões. Dan Senor e Saul Singer contam, no livro Nação Empreendedora, a história de um comandante do exército israelense que, na Guerra do Líbano, em 2006, precisava resgatar de helicóptero um colega no local para onde, ferido, este conseguira escapar. Era uma região cercada por arbustos, não havia como pousar, nem mesmo em solo mais afastado, pelo risco de ser abatido. A solução encontrada pelo comandante foi utilizar o rotor de cauda do helicóptero como um cortador de grama improvisado – desbastando um local para o pouso. E o comandante era um jovem de apenas 20 anos de idade.
Trata-se de consequência da criatividade estimulada em um ambiente em que você dificilmente vê alguém batendo continência. Se um general estiver mais perto da jarra de café, é ele quem serve o soldado. Não surpreende que empresas como Wix e Waze tenham sido criadas dentro deste ecossistema, contribuindo para que Israel, esta terra longínqua cada vez mais próxima do Brasil, se tornasse o país com o maior investimento de capital de risco e o maior número de startups per capita no mundo.
O exemplo do exército israelense, bem como os exemplos que deram certo no mundo corporativo, nos ensinam que, mais do que conquistar liberdade, é preciso nos comprometermos com a responsabilidade necessária para continuar merecendo essa liberdade. Algo que nem sempre estamos dispostos a fazer.