A viagem do presidente Jair Bolsonaro a Israel coincide com o auge de uma acirrada eleição parlamentar no país sob o comando do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, marcada para 9 de abril. É importante que o clima eleitoral não contamine negativamente a aproximação entre o Brasil e uma das raras democracias da região. Ambos os países, que historicamente manifestam admiração mútua, precisam aproveitar as oportunidades de troca em diferentes áreas, na maioria dos casos subaproveitadas.
Mais relevante para o Brasil do que a mudança da sede da embaixada para Jerusalém seria absorver o máximo possível da filosofia que levou Israel a se transformar num dos campeões mundiais da inovação, por meio do incentivo ao empreendedorismo e de investimentos consideráveis e eficientes em educação. A taxa de sucesso das startups israelenses é uma das maiores entre as economias desenvolvidas. O Waze, mais famoso aplicativo de mobilidade colaborativa do planeta, é apenas um exemplo.
Desprovido de recursos naturais e com grandes extensões de áreas desérticas em seu pequeno território, Israel apostou, mesmo antes da sua fundação oficial, na construção de escolas e de universidades. Um investimento de longo prazo, mas que tem retorno garantido.
O Brasil sempre exerceu protagonismo na defesa da paz entre os povos e pode contribuir ainda mais.
A ligação do Brasil e do Rio Grande do Sul com Israel é sólida e antiga. O gaúcho Osvaldo Aranha presidiu, em 1947, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) que decidiu pela criação da nova nação no Oriente Médio. Da mesma forma, nosso país mantém uma importante e efetiva relação com o mundo árabe, parceiro comercial e cuja influência ajudou a construir a identidade brasileira, no idioma, na gastronomia, na música e no desenvolvimento em áreas que vão do comércio à medicina.
Cabe ao país, nesse estreitamento de relações com Israel, compartilhar nosso modelo exemplar de convivência pacífica e harmônica entre culturas e etnias diferentes. Já no desembarque, o presidente Bolsonaro, citando a Bíblia, ressaltou a profunda ligação entre verdade e liberdade. O Brasil sempre exerceu protagonismo na defesa da paz entre os povos e pode contribuir ainda mais, rompendo a falsa dicotomia de que manter boas relações com um dos lados significa, automaticamente, oposição ao outro.