Por Davi D'Avila Souza, graduando de administração na UFRGS, estagiário da Akanni - Instituto de Pesquisa e Assessoria em Direitos Humanos, Gênero, Raça e Etnia
Após 130 anos da abolição da escravatura, a cota racial é a principal política pública de combate ao racismo da história do Brasil. A universidade é um dos principais meios que levam à ascensão social, por isso tão fundamental para a redução da desigualdade racial. Desde a primeira experiência feita pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro, em 2003, todas as universidades públicas federais do país, graças à lei de cotas 12.711/2012, têm reserva de vagas.
A conquista dessa ação afirmativa é fruto de uma luta do movimento negro, porém, seus benefícios se estendem a toda a sociedade. Há cino anos, quando ingressei na UFRGS como cotista para cursar Administração, a falta de diversidade racial era muito mais gritante que (ainda) é hoje. Muitas vezes, disciplinas tinham mais de 40 alunos e eu era o único estudante negro. Hoje, já no fim da graduação, andando pelos corredores percebo uma maior presença de negros(as) ocupando esse espaço. Há também uma mudança no cotidiano da universidade, fato que acontece desde a escolha dos objetos de pesquisa, nos referenciais teóricos em que solicitamos a inclusão de intelectuais negros, como na própria função social da universidade. De uma forma orgânica, a academia está se tornando mais inclusiva, diversa, e se voltando cada vez mais a refletir e levantar problemas sociais latentes na sociedade.
Uma política pública só encerra sua razão de existir quando alcança seu objetivo final, e menos de 20 anos ainda é pouco tempo para que esse objetivo tenha sido atingido. É fundamental a manutenção e a renovação da política de cotas, buscando transformar essa realidade racializada que ainda persiste, em que 54% da população brasileira se diz negra, porém, na universidade essa presença é de apenas 12%. O combate à profunda e secular desigualdade racial é primordial para qualquer país que busca o desenvolvimento social, político e econômico. Enquanto não houver equidade de oportunidades entre brancos e negros, as cotas raciais deverão existir.