Por Por Cassiano Fuga Cunha, advogado
No Rio Grande das polêmicas, se as águas do Guaíba baterem no muro da Mauá, as cheias nos outros pontos de Porto Alegre seriam de tal monta que a contenção do muro no Centro se mostraria irrelevante. Em 1941, praticamente 100% do comércio da Capital estava concentrado no Centro. Hoje, não é mais assim.
Sem o muro, os engenheiros sustentam que o sistema de proteção do Centro fica falho, caso se repita uma cheia como a de 1941, que entrou para a memória coletiva da cidade. Quem era rico ficou pobre. A expressão "abobado da enchente" surgiu daí. Mesmo quem não era vivo lembra dessa enchente.
Contudo, não é necessário um modelo de computação gráfica para formar a imagem mental de que se a água subir em algum ano do século 21, como subiu em 1941, ou se a água encostar no muro da Mauá, toda a cidade que não está no Centro vai ser seriamente afetada. O Quarto Distrito inteiro e o Praia de Belas vão ficar abaixo da linha da água, por exemplo.
A proteção do muro é ilusória, porque parcial. Serve mais como régua do que como barreira. E a cidade perde o rio.
A relação custo (apartar a cidade do rio) versus benefício (proteger o centro histórico de uma hipotética repetição da cheia de 41) não justifica a manutenção do muro. A ocupação do cais do porto seria uma solução para os transtornos que se verificam semanalmente na Cidade Baixa, por exemplo.
Para as milhares de pessoas que cruzam a Avenida Mauá a vista do Guaíba seria um assombro. Essa bruta barreira de concreto separa o porto-alegrense do que a natureza da cidade tem de melhor. Ganha-se qualidade de vida.
Para os preocupados com a enchente, há uma proteção jurídica e de mercado adequada ao caso concreto, com o perdão do trocadilho: o bom e velho contrato de seguro, que dada a recorrência do fato segurado (alagamento) poderá ser obtida por valor anual equivalente ao prêmio do seguro contra incêndio, que é barato.
E vamos deixar de lado a polêmica e aproveitar o Rio Guaíba. Ou seria Lago?