Por Henrique Fontana, deputado federal (PT-RS)
Os primeiros meses do governo Bolsonaro colocam o país diante de uma perspectiva sombria. Bolsonaro montou um Ministério à sua imagem e semelhança, dedicado à entrega do patrimônio nacional, à retirada de direitos e ao desmonte de programas sociais. A reforma da Previdência, ação mais forte do governo até agora, penaliza os mais pobres, que terão de trabalhar mais e ganharão menos. Dos R$ 1,3 trilhão que a proposta pretende "economizar", mais de 80% serão retirados dos contribuintes que ganham até dois salários mínimos.
A pregação ideológica do presidente afastou Cuba do programa Mais Médicos, prejudicando as localidades mais afastadas. Na Educação, o governo tem sido um gerador de conflitos e demonstra seu caráter excludente ao pregar que a universidade é para uma elite. Na segurança, carro-chefe da campanha de Bolsonaro, a liberação das armas de fogo fatalmente aumentará a violência.
A constrangedora vinculação de Bolsonaro e sua família com as milícias não encontra, de parte do presidente, nenhuma explicação sequer razoável para a série de "coincidências" que embasam as denúncias, enquanto o ministro Sergio Moro se enfraquece escondido sob o manto da omissão.
Toda a respeitabilidade acumulada pelo Brasil durante as últimas décadas sofre um rápido processo de erosão em função de uma política externa truculenta que rompe com as tradições democráticas do Itamaraty e já traz prejuízos econômicos. Grandes exportadores reclamam que sua posição ideológica contra a China e o mundo árabe começa a fechar mercados à produção nacional.
Por fim, é preocupante a partidarização de setores das Forças Armadas, que abrem mão de seu papel constitucional de defesa da Pátria para aderir a um projeto de poder que se caracteriza pela vergonhosa subserviência, como se nota na viagem do presidente aos Estados Unidos.
A queda da aprovação do governo nas pesquisas e o crescimento das mobilizações contra a reforma da Previdência mostram que a sociedade já percebe a verdadeira face de um governo que se mostra cada vez mais contrário aos interesses da maioria do povo.