Paralisado por uma série de tensões envolvendo membros do Executivo e integrantes de outros poderes, o governo Jair Bolsonaro enfrenta dificuldade de engrenar uma agenda de trabalho. Nesta quarta-feira (27), em mais um sinal de que a falta de coordenação não foi superada, o presidente da República voltou a trocar críticas com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia.
Maia subiu o tom contra Bolsonaro dizendo que seu governo ainda não começou e que ele está “brincando de presidir o país”.
A declaração foi dada após questionamento sobre a fala do presidente da República, que à tarde concedeu entrevista à TV Bandeirantes, afirmando que não procuraria o parlamentar para conversar neste momento porque Maia estaria “abalado” por assuntos pessoais. Sem citar quais questões seriam, o comentário foi entendido como alusivo à prisão, na última semana, do ex-ministro Moreira Franco, padrasto da mulher de Maia.
— Abalados estão os brasileiros que estão esperando desde 1º de janeiro que o governo comece a funcionar. São 12 milhões de desempregados, 15 milhões de brasileiros vivendo abaixo da linha da pobreza e o presidente brincando de presidir o Brasil – disse Maia.
Para o presidente da Câmara, o governo está com o foco disperso em relação à prioridade anunciada pela equipe econômica: a reforma da Previdência.
— Acho que está na hora de a gente parar com esse tipo de brincadeira. Está na hora de ele (Bolsonaro) sentar na cadeira dele, do Parlamento sentar aqui, e a gente em conjunto resolver os problemas do Brasil. Não dá mais para perder tempo com coisas secundárias – acrescentou.
Em São Paulo, onde participou de encontro com empresários, Bolsonaro rebateu as críticas do presidente da Câmara:
— Não existe brincadeira de minha parte. Se foi isso mesmo que ele (Maia) falou, lamento. Não é palavra de uma pessoa que conduz uma Casa.
A tréplica de Maia veio no início da noite. Após afirmar que não iria mais responder e que deixaria o presidente “começar a trabalhar”, criticou os ataques que vem sofrendo de aliados de Bolsonaro – entre eles, do filho Carlos – nas redes sociais.
— Sei muito bem o que eles têm usado de palavras de baixo calão contra mim, os amigos dele, né? Palavras de baixo calão, grosseria. Então, é engraçado que uma pessoa que acha graça nesse tipo de palavreado na internet, faça algum tipo de crítica — disse o presidente da Câmara.
Ao jornal O Globo, ele complementou:
— Chega. Está na hora de parar. O Brasil precisa que a gente pare. Agora, é claro, quando você recebe uma crítica, o natural é que a gente faça, tenha uma reação. Mas está errado. Vamos parar. Vamos cuidar do Brasil. O Brasil está precisando. São 12 milhões de desempregados no Brasil. Não é brincadeira — afirmou.
No Congresso, projetos do planalto empacam
A troca de farpas é mais um capítulo em uma sequência de desentendimentos. Desde o início do governo, já houve embates entre Maia e o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, disputa interna no MEC que fragilizou o ministro Ricardo Velez Rodriguez, derrubada, pelo Congresso, de decreto sobre sigilo de documentos e a aprovação, na Câmara de uma PEC que engessa o orçamento, o que vai contra a proposta de Paulo Guedes para os gastos públicos.
No Congresso, a PEC da Previdência patina. A passagem de Guedes pelo Senado ajudou a reduzir contrariedades, mas o ministro acendeu luz de alerta para o mercado e aliados ao dizer que pode deixar o cargo, caso não tenha apoio.
O restante da agenda do governo no parlamento também não andou. São oito medidas provisórias, seis projetos de lei e a PEC encaminhados até agora. Nada avançou.
Na tentativa de melhorar a relação entre o Planalto e o Congresso, o chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, se reuniu com líderes da Câmara e do Senado. Prometeu que o Planalto quer recomeçar o diálogo com os parlamentares da “estaca zero”. Em troca, foi advertido que Bolsonaro precisa se empenhar na aprovação da reforma e abrir um canal concreto de diálogo.