Por Fábio Bernardi, sócio-diretor de criação da Morya
Durante nove meses, sua mãe o carregou dentro da barriga como se fosse o bem mais precioso do universo. Os enjoos, a falta de posição para dormir, as restrições na alimentação, a dor nas costas, tudo não passava de mera distração. O foco sempre foi ele. A alegria e o amor pela chegada dele não cabiam no peito. Durante todo o tempo, o pai colocava a mão na barriga que crescia, sentia os chutes do pequeno, fazia planos de lhe mostrar o mundo.
E, então, ele nasceu. A coisa mais linda do mundo, como são as coisas mais lindas do mundo todos os bebês que nascem. A família se amontoava no vidro do hospital, os amigos mandavam mensagens, as crianças queriam ver o novo priminho que chegou.
E, então, ele foi pra sua casa nova. No quartinho colorido, a mamãe pegou no colo e deu de mamar na cadeira escolhida com tanto carinho, enquanto o papai olhava bobo aquele sonho realizado. O mundo parado lá fora e a felicidade nos braços aqui dentro.
E os dias foram passando, entre cólicas, cocôs e sorrisos. Ele foi aprendendo a ver as cores, a sentir as coisas, a dar gargalhada, a balbuciar vogaiseconsoantesjuntas. Um dia o pescocinho ficou firme, no outro ele já apareceu sentadinho e, em pouco tempo, já rolava pros lados. Aprendeu a engatinhar e, de repente, deu o primeiro passinho. Os olhinhos dele só brilhavam menos do que os dos seus pais, pra sempre marejados.
E assim ele foi crescendo, crescendo. A cada dia uma nova descoberta, uma nova brincadeira, um novo aprendizado. Saiu do leite para a frutinha, depois veio a papinha e um mundo de sabores novos. Surgiu a primeira sílaba, depois a primeira palavra e, enfim, a primeira frase. Aos poucos foi trocando a roupa de bebê pela bermudinha e suspensório. O mais novo homenzinho da casa. Descobriu novos amigos na escolinha, abraçava os cachorrinhos na rua, enchia o mundo de alegria e esperança. Sempre embalado, ninado, acarinhado, protegido, acalentado e amado pelos pais e avós. Como são, afinal, todas as crianças do mundo.
Enquanto ele crescia, cresciam seus sonhos. Enquanto ele crescia, cresciam os sonhos dos seus pais. Enquanto ele crescia, crescia a alegria de todos que cruzavam seu caminho. Criança é sempre luz, sempre novidade, sempre uma casa cheia.
Enquanto ele crescia, comemorava cada aniversário como se fosse o último. Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete.
Enquanto ele crescia, parecia que tinha a vida inteira pela frente. Mas não teve.
De que importa, afinal, de quem ele era neto?