Alguns foliões que foram participar das comemorações de rua em dias de programação não oficial do Carnaval na Cidade Baixa, em Porto Alegre, não entenderam a proposta de reativação dos blocos como uma manifestação espontânea. Quem gera o conflito, sempre condenável, é quem descumpre as regras e não quem está lá para garantir a mínima ordem. E esse tipo de comportamento tem consequências ainda mais relevantes quando é extravasado num espaço urbano de alta densidade populacional como é o caso do tradicional bairro da Capital, às voltas nos últimos anos com o conflito entre os direitos dos moradores e os dos que saem à noite com o objetivo de festejar.
Como alertou editorial de Zero Hora publicado às vésperas dos festejos carnavalescos, "é fundamental que o direito à diversão de muitos não atropele as normas básicas de conduta em espaços urbanos compartilhados". Quando falta conscientização sobre uma questão tão elementar, não adianta simplesmente trocar as festividades de lugar. É preciso também uma mudança cultural e comportamental. Uma boa fonte de inspiração seriam experiências pacíficas e bem-sucedidas, como as que fazem parte da história em capitais como Recife e Salvador.
Não se pode aproveitar os exageros de alguns para tentar acabar com o divertimento da maioria
A orla do Guaíba, admitida agora como alternativa pela Prefeitura de Porto Alegre para 2020, oferece uma série de vantagens em relação à escolhida como local para dois dias da programação oficial deste ano. Entre elas, ser mais ampla e mais afastada de áreas residenciais. Ainda assim, quem não respeita horário nem a autoridade policial, quem depreda carro, usa porta de prédios como sanitário, vira contêiner, quebra garrafas, arremessa pedras e despeja lixo no chão demonstra uma falta de civilidade que independe de local para vir à tona.
Em qualquer época do ano, incluindo a da maior festa popular brasileira, cada cidadão precisa se manter consciente da importância de respeitar limites básicos de civilidade. É dever de cada um fazer a sua parte, evitando prejudicar quem está disposto apenas a se divertir, extravasando criatividade na maneira de se expressar, através da fantasia e da música. Como alertou o mesmo editorial de Zero Hora, "cabe às autoridades uma presença ostensiva em regiões de grande concentração, dando segurança à maioria que deseja se divertir em paz."
O Carnaval é uma festa popular e democrática. Não se pode aproveitar os exageros de alguns para tentar acabar com o divertimento de uma maioria, que tem consciência de até onde vão os seus limites.