As intenções iniciais podem ter sido melhores, mas a opção pela construção de Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) em todo o país deu margem a uma série de deformações na prática, inclusive no Rio Grande do Sul, que precisam ser enfrentadas com rapidez e determinação. No Estado, das 17 unidades que ainda permanecem fechadas ou em construção, 10 devem ser entregues à população até o final do ano. Algumas delas serão usadas para outras finalidades, como centro de especialidades, por exemplo. Numa área tão carente de recursos públicos, é inadmissível que tenha havido tanto desperdício de tempo e de dinheiro.
As distorções na área de saúde pública, muitas das quais por motivações políticas, precisam ser corrigidas logo
As dificuldades mais evidentes nesses casos não se limitam ao atraso na conclusão dos empreendimentos, ainda que esse seja um aspecto inconcebível. Os problemas surgiram já na fase de planejamento, a partir de 2008, quando chegaram a ser levados em conta até mesmo critérios políticos para definir sua localização. Além de não necessitar exatamente de um projeto nas condições determinadas em âmbito federal, o município, já na época, não dispunha do montante necessário para manter as unidades em funcionamento durante 24 horas nem de efetivos em número suficiente. A dificuldade ficou ainda mais evidente com o agravamento da situação financeira do setor público. Construídas por meio de repasses do Ministério da Saúde, as UPAs têm sua manutenção dividida entre as três instâncias da federação.
O poder público, carente de recursos para uma área essencial como a saúde pública, não pode dar margem a equívocos financeiramente dispendiosos, que não contemplam as reais necessidades da população. Os gestores municipais têm o direito a mais autonomia para gerir as verbas do Sistema Único de Saúde (SUS). Cabe a eles, também, decidir qual o projeto que se enquadra nas demandas das comunidades que representam. A precondição para que a descentralização das decisões atenda aos interesses da população é que toda movimentação financeira seja acompanhado com total transparência.
As distorções na área de saúde pública, muitas das quais por motivações políticas, precisam ser corrigidas logo e não pode haver margem para que se repitam. A população não pode arcar com o ônus de interesses eleitoreiros ou de incapacidade gerencial, muito menos numa área na qual as carências já se mostram em níveis inaceitáveis.