Opinião

Preconceito

Carnaval, Fábio Assunção e as máscaras da dependência química 

"Cada indivíduo deve ser atendido empaticamente, de acordo com as suas necessidades e história de vida"

Por Renata Brasil Araujo, psicóloga, vice-presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (Abead)

Mateus Bruxel / Agencia RBS
"É difícil não sentir indignação ao observar o quanto a dependência química tem sido, de forma cruel, alvo de preconceitos"

É difícil não sentir indignação ao observar o quanto a dependência química tem sido, de forma cruel, alvo de equívocos fundamentados em ideologias e preconceitos. A atual crucificação de pessoas famosas que têm esse transtorno, como é o caso do ator Fábio Assunção, cujo sofrimento é tratado com deboche e desrespeito por alguns "cidadãos" brasileiros, é no mínimo digna de pena.

Comentam e criticam a vida dessa pessoa – e de outros tantos com o mesmo problema –  como se interromper o uso das drogas dependesse apenas de força de vontade e não fosse algo extremamente complexo, com vieses biológicos, psicológicos e sociais. Acreditam que basta "eles" fazerem um tratamento, que estará tudo resolvido, e caso não queiram fazer, que fiquem "no seu canto", sem incomodar ninguém.

Assim como os dependentes são vistos de forma unidimensional e preconceituosa, como se um único rosto (ou máscara de Carnaval) pudesse representar a todos eles (e a sua "loucura"), o mesmo ocorre com os tratamentos para dependência química. Muitos profissionais entendem que há um único objetivo terapêutico que pode ser viável, a abstinência total, ou a redução de danos; bem como, que só existem duas alternativas de tratamento, a internação ou a liberdade de decidir usar drogas de forma menos insegura. Qualquer uma dessas importantes possibilidades, se compreendida unidimensionalmente, é contrária ao que nos apresentam as evidências científicas e a prática clínica.

O grande erro é que não existe um "ser", "o dependente químico", para o qual há uma única abordagem terapêutica efetiva que tem que ser defendida e idolatrada por todos. Cada indivíduo deve ser atendido empaticamente, de acordo com as suas necessidades e história de vida. Isso significa que é somente ouvindo a voz desse ser humano e daqueles que o acompanham que poderemos entender o que ele realmente precisa e, assim, lhe oferecer um tratamento ético e técnico, que lhe proteja e impulsione a ser feliz.




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