Por Pedro V. P. Brites, Professor, coordenador do Curso de Relações Internacionais da UniRitter
Não é de hoje que o agravamento da estabilidade política na tem mobilizado a comunidade internacional, em especial a América do Sul. Esse quadro tem gerado muita tensão na região, inclusive com debates acerca da possibilidade de uma mudança de regime no país e até de uma intervenção militar com apoio dos Estados Unidos. Embora tenhamos a tendência de buscar respostas rápidas que nos auxiliem a entender o que se passa na Venezuela, a política internacional é uma arena na qual existem múltiplos interesses e observar a situação de uma perspectiva maniqueísta não vai nos permitir compreender a profundidade da situação no país vizinho e os efeitos que a deterioração da crise pode gerar para toda a região e o Brasil.
A Venezuela está no centro da geopolítica do petróleo, já que detém as maiores reservas do planeta, além disso é uma das principais economias da América do Sul, por isso os desdobramentos da crise no país de Maduro atingem a estabilidade da região como um todo. No nível global, a atual crise colocou a América do Sul no eixo das disputas entre EUA, Rússia e China. Enquanto Trump deu apoio imediato ao auto-proclamado presidente, Juan Guaidó, Moscou e Pequim reiteraram seu suporte ao governo de Maduro.
A posição divergente das Grandes Potências, que reflete os interesses particulares de cada uma delas na Venezuela, repetindo movimentos similares ao que já observamos em outras crises, como na Síria e no Iêmen, por exemplo, demonstra que a crise venezuelana tem potencial para se tornar epicentro das disputas globais da geopolítica do petróleo. No nível regional, o recrudescimento da crise pode acabar por arrastar os países vizinhos em direção a um conflito militar indesejado, cujas consequências podem ser graves para a estabilidade regional, enfraquecendo ainda mais instituições como o Mercosul. Além disso, a mobilização militar na fronteira da Venezuela com o Brasil e com a Colômbia, dependendo de como a situação avançar, podem levar a uma espiral de crise, cujos resultados são imprevisíveis, e incluem até a possibilidade de uma confrontação militar.
Uma intervenção militar voltada à mudança de regime pode jogar a região em um quadro de crise profunda. Até porque, as intervenções para mudança de regime, mesmo quando tem cunho alegadamente humanitário, como nos mostram o Iraque e a Líbia (ambos também grandes produtores de petróleo), deixam um rastro de instabilidade regional, ampliam o número de baixas na população civil e levam anos, quando não décadas, para serem resolvidas. Por isso, recomenda-se parcimônia. A política internacional não é a luta do bem contra o mal, é uma arena de disputas de interesses. Estar atento a isso é a chave para entendermos a crise na Venezuela e sabermos o potencial que o agravamento da crise pode gerar para a estabilidade da América do Sul.