Por José Luiz de Araújo Aymay, advogado e Mestre em Direito Público
Eu não apreciava a atuação do ex-juiz, Sergio Moro, na condução dos processos da Lava-Jato. Achava e continuo achando que ele violava a lei para satisfazer os torcedores antipetistas. Para recordar do mínimo, lembremos que ele abriu mão de suas férias só para atuar na mantença da prisão do ex-presidente Lula. Isso que afirmo não é achismo, pois foi amplamente noticiado! Mas enfim, é passado.
Atualmente, Moro ocupa um cargo político na condição de ministro da Justiça e Segurança Pública e, como político que se tornou, e aqui vou parafrasear o compositor Cazuza, temos percebido que suas ideias não correspondem aos fatos. Recordemos que, quando juiz, Sergio Moro não entendia como algumas pessoas conseguiam distinguir corrupção para fins de enriquecimento ilícito e a corrupção para fins de financiamento de campanha eleitoral (este o famoso caixa 2).
Não por acaso, em palestra que ministrou no Brazil Conference Harvard, nos EUA, em 8 de abril de 2017 (pode ser acessado na internet), ele foi enfático na criminalização da prática de caixa 2. Chegou a denominar de "trapaça". Porém, ao que tudo indica, numa jogada política para agradar o governo, o agora ministro da Justiça, após a cerimônia de assinatura do projeto de lei anticrime, afirmou, não com a veemência de outrora, que caixa 2 "não é corrupção".
A análise empírica deste fato aponta que, as mesmas circunstâncias, quando analisadas pela mesma pessoa, porém, em cargos diferentes, permite conclusões antagônicas. Ou seja, a grosso modo, a cabeça do "juiz" Sergio Moro não pensa como a cabeça do ministro Sergio Moro.
A questão é a seguinte: Moro está sendo intelectualmente honesto ao dizer que caixa 2 não é crime? Não há problemas em mudar de opinião. Até porque, filosoficamente, como dizia Sócrates "eu tenho a minha opinião até mudar de ideia".
E sim, Sergio Moro pode ter mudado de ideia e, consequentemente, de opinião. Mas quais as motivações para as novas ideias? Haverá segredos de liquidificador nos novos pensares do Moro?
O tempo irá nos mostrar, porque o tempo não para. Não para, não, não para.