Por Eduardo Neubarth Trindade, presidente do Cremers
A polêmica resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM), que autoriza a realização de consultas online, telecirurgias e telediagnósticos – e que será alterada após protestos e questionamentos feitos por nós e outros conselhos regionais – contribui para o debate sobre qual a medicina que queremos.
Para começar, é inegável que a telemedicina chegou para ficar. O uso da tecnologia na área da saúde tende a crescer, e rapidamente. Precisamos, contudo, manter cautela e evitar açodamentos por maior que possa ser nosso entusiasmo diante dos avanços a passos largos da ciência, em que o novo em pouco tempo é como jornal de véspera.
O que é permanente e imutável, por mais que se usem as mais modernas ferramentas e novas técnicas, é o paciente. Na medicina que queremos, o paciente, em qualquer circunstância, está sempre em primeiro lugar. Somos favoráveis à incorporação de novas tecnologias no tratamento médico, mas sem descartar o exame físico, o olho no olho.
É fundamental, imprescindível, manter e estimular cada vez mais a relação médico-paciente, nem sempre possível na rede de saúde pública em todo o país, mas que deve ser buscada sempre, tanto nas consultas em postos de saúde precários quanto na telemedicina, uma conquista que precisa ser bem trabalhada em benefício do paciente e também do médico.
Na medicina que queremos, não podem faltar investimento em saúde e a boa gestão desses recursos, bem como um programa sério de interiorização com a criação de uma carreira de Estado para o médico.
É importante, também, uma atuação forte do governo para bloquear a abertura de novos cursos de medicina (hoje são 334) e fechar aqueles que não estão aptos a formar profissionais qualificados.
Falta uma depuração rigorosa como a feita nos EUA em 1910, a partir de um estudo sobre faculdades de medicina do país. O Relatório Flexner, como ficou conhecido, resultou na extinção de quase metade das escolas médicas. Hoje, são 125, todas formando bons médicos. A medicina que queremos começa por aí, pela formação de profissionais habilitados a prestar um atendimento eficaz e resolutivo à população.