Mais de um ano e meio depois da primeira condenação, referente ao tríplex de Guarujá, a mais recente, relacionada ao sítio de Atibaia, ajuda a desmontar ainda mais a tese de perseguição ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por um juiz motivado por razões pessoais ou políticas. À meticulosa sentença de 360 páginas da juíza Gabriela Hardt cabe, naturalmente, recurso a outras instâncias. Ainda assim, as abundantes provas de que o ex-presidente e sua família se beneficiaram de recursos de empreiteiras envolvidas em negócios escusos com o coração de seu governo deveriam pôr de vez no modo silencioso os queixumes pela sua cada vez menos propalada inocência.
Com a decisão, só há a se celebrar o fato de a Justiça ter aplicado no caso o que deve ocorrer a qualquer servidor para o qual os cofres e negócios públicos sejam vistos como uma extensão natural de sua vida. O ex-presidente acertou em muitos pontos de seu governo, mas também cometeu erros em excesso. O maior e mais trágico fracasso foi não ter se valido de sua popularidade para estabelecer um novo padrão ético pelo qual tanto ansiava o povo brasileiro. Essa missão coube à Operação Lava-Jato e sua faxina nas relações espúrias dentro e fora do governo.
Lamentavelmente, a biografia do ex-presidente, condenado agora a 12 anos e 11 meses, foi conspurcada por ele próprio dentro e fora do país. O desvio na sua trajetória ficou evidente com a comprovação de que se assenhorou do aparelho estatal com o fim de se perpetuar no poder e obter benefícios pessoais indevidos. Em sua decisão, a magistrada justifica que a família do petista "usufruiu do imóvel como se dona fosse" e que o ex-mandatário tinha o papel de "dar suporte à continuidade do esquema de corrupção havido na Petrobras". O valor envolvido no caso soma R$ 1 milhão.
Os mais fanáticos seguidores do petista estão no seu direito de protestar, espernear e até chorar, como se viu nas redes sociais. Mas não será desqualificando uma juíza e o aparato legal que os admiradores do ex-mandatário obterão qualquer mudança no status do ex-presidente presidiário.
Sem chicanas ou manobras políticas, Lula Livre será apenas um slogan vazio que vai se esmaecendo com o passar do tempo e das condenações que empilham nos ombros do ex-presidente. Outras ações ainda aguardam julgamento, reafirmando que o líder petista não levou em conta a liturgia do cargo e a integridade exigida de quem ocupa a presidência do país.