Por Thiago Gatti Pianca, psiquiatra no Serviço de Psiquiatria da Infância e Adolescência no Hospital de Clínicas de Porto Alegre
Sabemos que nosso cérebro está em constante desenvolvimento, do nascimento até a idade adulta. E que o período da adolescência é fundamental para o desenvolvimento de funções cerebrais avançadas, responsáveis por planejamento e controle de impulsos.
Nessa idade, as drogas afetam o cérebro de maneira particularmente danosa. O uso precoce do álcool, por exemplo, leva a um risco entre 5 e 10 vezes maior de se tornar alcoolista do que quem começa a beber após os 21 anos. O álcool dificulta justamente o desenvolvimento dos mecanismos que de controle de impulsos (entre eles, o de beber). Também piora o desempenho intelectual e motor. Apesar de adolescentes beberem há séculos, só foi possível demonstrar os danos aumentados nos seus cérebros na última década, com ajuda de modelos mais refinados de pesquisa, estudos de neuroimagem e de modelos animais.
Tudo indica que o conhecimento sobre a maconha seguirá o mesmo caminho. Estudos recentes sugerem piora do desempenho cognitivo, maior risco para psicoses e maior chance de desenvolver dependência à cannabis. Mas há novidades.
Foi publicado nesse mês, na revista Lancet, um estudo que reuniu dados de outras 35 pesquisas que acompanharam um mais de 23 mil adolescentes até a idade adulta. Investigaram a relação do uso de maconha e o surgimento de sintomas de depressão na vida adulta. Encontraram que o uso da cannabis aumentou em 37% o risco de desenvolver Depressão, e em 50% o de apresentar ideação suicida. E as tentativas de suicídio aumentaram 346% para esses jovens!
Mesmo que o estudo não possa afirmar com certeza de que foi a droga que causou depressão nos jovens, algumas mensagens são claras. Na adolescência não existe uso de drogas isento de riscos. Todo uso de drogas nessa faixa etária é, no mínimo, um sinal de alerta para surgimento de diversos problemas de saúde mental.
Como adultos, devemos ficar atentos a esses sinais. É urgente que tomemos medidas para prevenir o uso de drogas nessa época, pois coloca em risco uma quantidade considerável de vidas.