O rompimento de uma nova barragem de rejeitos industriais, desta vez em Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte, é a confirmação de uma tragédia anunciada. Pouco mais de três anos depois do desastre de proporções inéditas registrado em Mariana, também em Minas Gerais, a repetição do fenômeno numa estrutura de menores proporções, mas preocupante desde o início pelo elevado número de desaparecidos, reafirma o quanto o país continua vulnerável sob o ponto de vista ambiental. Não é admissível que se resolva esperar pela repetição de fatos semelhantes para, só então, começar a agir preventivamente.
Desde o registro do maior desastre ambiental da história brasileira, não faltam alertas sobre a possibilidade de novos casos. De maneira geral, porém, quem tem algum poder para evitar esse tipo de dano prefere correr o risco de acidentes a agir preventivamente. A própria Vale do Rio Doce, responsável pelo mais recente vazamento, é uma das controladoras da Samarco, que, em novembro de 2015, foi responsabilizada pelo vazamento no qual 19 pessoas morreram sob milhões de metros cúbicos de lama. Na época, milhares de moradores ficaram sem suas casas e houve prejuízos ambientais irreparáveis, no solo e em rios da região, incluindo o Doce.
Desde Mariana, cujos danos ainda não foram devidamente ressarcidos, não faltam alertas sobre o risco de novas ocorrências. Um levantamento recente da Agência Nacional de Águas (ANA) já advertia que dezenas de barragens no Brasil estão vulneráveis e podem apresentar riscos de rompimento. A ameaça se mantém justamente pelo fato de, normalmente, problemas como rachaduras e infiltrações serem minimizados. Os responsáveis por esses complexos querem despender o mínimo de recursos e os organismos de fiscalização, por razões nem sempre devidamente esclarecidas, não exercem o seu papel com o rigor necessário.
O presidente Jair Bolsonaro demonstrou consciência da repercussão do fato ao determinar, de imediato, a instalação de um gabinete de crise no Palácio do Planalto e no Ministério do Meio Ambiente para acompanhar a situação. O rompimento de uma nova barragem deixa evidente que o país precisa agir com mais rigor de forma preventiva, sem se limitar apenas a reparar danos de fatos previsíveis. Os brasileiros não podem se conformar mais com sinais tão expressivos de imprevidência em relação às pessoas e ao meio ambiente.