Por Vitória Raskin, assistente social
Em um país em que muitas crianças, há muito, deixaram de acreditar em Papai Noel, não causa surpresa a indignação com o discurso da nova Ministra do Desenvolvimento social.
Todo 25 de dezembro, um vasto contingente de meninas e meninos acordam e percebem que não foram abençoadas com a visita do bom velhinho que reconhece e premia quem foi obediente, educado e estudioso. Difícil para crianças que trabalham, são abusadas (como contou a própria ministra), passam fome, caminham descalços por horas para chegar à escola, muitas vezes não tem uma família ou são o arrimo da sua, entenderem onde erraram ou o que fizeram para não serem merecedoras da bicicleta, da bola, da boneca ou do vídeo game.
O triste das cartas das crianças que enviam pedidos ao Papai Noel pelos correios, e que boas almas se propõem a contemplar, é nos depararmos com desejos que passam longe dos anseios de quem quer ser príncipe ou princesa. Pedem uma boa refeição, remédios, um emprego para o pai, ou até uma família.
Mais triste ainda, é visitarmos uma casa de acolhimento institucional e vermos bebês enfileirados nos berços em absoluto silêncio, porque já desistiram de chorar. Não há braços suficientes para acolhe-los.
É desolador, mas compreensível, vermos que estas crianças não anseiam um castelo de conto de fadas.
A vida ensinou que o rei que cuida é o chefe do tráfico. Que o menino popular é o egresso da FASE, que a vida pode ser curta neste meio, mas ainda melhor do que a fome, o abandono e a falta de cuidados que a sociedade e o estado lhes têm oferecido.
Famílias inteiras são sustentadas por suas crianças neste contexto, e outras tantas, dizimadas em consequência desta realidade.
Neste mundo, em que meninas vestem farrapos e meninos andam descalços, mendigando nas esquinas, há lugar para azul e cor de rosa?
Precisamos de gestores que produzam mais e sonhem menos. De boas intenções o inferno está cheio, e, infelizmente, políticas públicas e desenvolvimento social não se fazem com vara de condão.