Por Ricardo Hingel, economista
A difícil situação financeira do Estado do Rio Grande do Sul trouxe para discussão na negociação com a União a intenção desta em incluir a privatização do Banrisul como exigência para o acordo, o que foi negado pelo então governador Sartori e reafirmado pelo governador Eduardo Leite durante a campanha eleitoral.
Pela relevância que possui para a economia gaúcha e para seus quase 4 milhões de clientes, a preservação do banco merece uma análise qualificada.
Para medir sua importância na economia, foi realizado o estudo Estimação dos Impactos do Banrisul na Economia Gaúcha em 2017, com a coordenação do professor Adelar Fochezatto e de economistas do banco, e que oportunamente será disponibilizado na íntegra.
Para sua realização, foi utilizada a Matriz de Insumo-Produto do Rio Grande do Sul e calculado o impacto da injeção de R$ 40 bilhões de créditos feitos pelo banco no Estado em 2017.
Explicando resumidamente, o sistema econômico equipara-se a um organismo vivo que recebe seus insumos, processa-os e gera produtos e serviços. Sua estrutura e interconexões são identificadas pela matriz. Para o funcionamento de qualquer economia, o crédito é fundamental; o sistema financeiro captura a poupança de um lado e disponibiliza crédito do outro. A fluência deste é base, e economias eficientes dependem dele.
No estudo em pauta, a economia gaúcha foi dividida em 37 setores e 107 subsetores por onde fluiu o crédito liberado pelo Banrisul no período. A divisão setorial é importante, pois cada um possui impactos e multiplicadores diferentes. O valor monetário no PIB obtido a partir da injeção de crédito de R$ 40 bilhões chegou a R$ 76,5 bilhões, representando uma participação no PIB estadual de 18,5%.
Outros resultados obtidos referem-se à remuneração do trabalho, que chegou a R$ 11,1 bilhões, à renda bruta dos empresários, que atingiu R$ 22,1 bilhões, à geração de impostos, que totalizou R$ 8,5 bilhões, sendo mais de R$ 6 bilhões apenas de ICMS, auxiliando na manutenção de 1,3 milhão de empregos. Havendo recuperação econômica, o impacto do Banrisul na economia deve ser ainda maior, em especial por sua capilaridade, capitalização e liquidez.
Embora a relevância econômica e social do papel do Banrisul demonstrada deva ser sua principal justificativa, não é demais ressaltar os valores recebidos pelo Estado desde 1999, cujos dados são públicos e que, atualizados pelo CDI, totalizam perto de R$ 15,7 bilhões, entre dividendos, IPO e compra da folha do Poder Executivo.
Mostrar os reais efeitos do banco na economia gaúcha, através de estudo baseado em metodologia científica, é fundamental para que a razão predomine.