Nos primeiros 10 dias no comando do Palácio Piratini, Eduardo Leite concentrou esforços em duas grandes frentes: a edição de decretos de contenção de gastos, para garantir fôlego financeiro para o Estado, e a reestruturação de secretarias e órgãos de governo. Embora sejam ações fundamentais para trazer racionalidade à gestão pública, o trabalho do recém-empossado governador do Rio Grande do Sul só começará de verdade – e aí poderá ser avaliado – quando as primeiras medidas estruturantes, prometidas durante a campanha eleitoral, forem concretizadas.
Passado o entusiasmo da vitória nas urnas, apresenta-se agora ao governador a vida real. Alta taxa de homicídios, folha de pagamentos atrasada, dívidas com hospitais e baixos índices de qualidade no ensino são apenas alguns dos desafios que já estão batendo às portas do Piratini.
O sucesso da gestão de Eduardo Leite está condicionado principalmente à apresentação de um plano sólido para o futuro do Estado. Os detalhes ainda não foram anunciados, mas entrevistas concedidas por secretários ao longo das duas primeiras semanas de trabalho indicam que o governo, apesar do aumento do número de secretarias, pode estar no caminho certo, preocupado em modernizar a estrutura, enxugar gastos supérfluos e acelerar a venda de imóveis ociosos.
O projeto em estudo pela Secretaria de Educação para reduzir de 30 para 12 o número de coordenadorias regionais é um bom exemplo. Trata-se de uma medida racional, considerando-se que, com a digitalização de processos, a necessidade de atendimento presencial caiu drasticamente na última década. Não há razão para 1,3 mil professores, que poderiam estar em sala de aula, estarem envolvidos em trabalhos burocráticos que, em grande parte, poderiam ser automatizados, sem a extinção de qualquer emprego. A atividade-meio não pode ser mais importante do que a atividade-fim.
Também é promissor que estejam no horizonte de curto prazo do governador a revisão do plano de carreira dos servidores, um robusto programa de parcerias público-privadas, além de uma proposta alternativa para adesão ao regime de recuperação fiscal, que não inclua a venda do Banrisul.
Olhadas individualmente, muitas das medidas representam um pequeno impacto nos cofres públicos, mas são fundamentais para tornar a máquina mais eficiente e evitar sobreposição de funções em um Estado que não consegue sequer quitar a folha de pagamento do funcionalismo em dia.
Peça-chave para levar adiante as mudanças, é bem-vindo ainda o esforço de Eduardo Leite para manter boas relações do Executivo com a Assembleia Legislativa. A aprovação de medidas que contrariam interesses e privilégios incompatíveis com a situação de penúria do setor público não é fácil. Outros governadores de reconhecidos talentos políticos tentaram e não conseguiram.
O grande desafio do jovem governador gaúcho é não se deixar engolir pelas questões da rotina da gestão. Para isso, montou sua equipe de governo. Os focos de incêndio são e serão muitos, mas Leite precisa dedicar boa parte da sua energia ao longo prazo. Sem pensar no Rio Grande de amanhã, o hoje fica ainda mais difícil.