Se para algo serviram os desacertos no terceiro dia útil de governo, quando claramente o presidente Bolsonaro e membros da sua equipe bateram cabeça, foi para demonstrar que a nova administração precisa de melhor organização e menos autossuficiência para comandar o Brasil.
O desacerto em torno do anúncio do presidente sobre o aumento do IOF, com posterior negativa do secretário especial da Receita e do chefe da Casa Civil, foi pedagógico no sentido de o novo governo acordar para o fato de que não bastam vontade, discursos exaltados e tuítes agressivos para gerir um país com a complexidade do Brasil. Na verdade, se a lição for bem aprendida, pode se ter a primeira evidência de que o governo Bolsonaro finalmente descerá do palanque. Ganhar a eleição é uma coisa, administrar um país com necessidades reais e urgentes é outra, bem diferente.
Nessa linha, causa espécie a quantidade de polêmicas inúteis em que o governo é capaz de se meter por declarações desastradas nas redes, como foi o caso da ministra Damares Alves e a tal controvérsia sobre as cores azul e rosa. Ou do novo chanceler em seus devaneios sobre a oikofobia, que seria o ódio ao lugar em que se nasceu, e louvações ao guru Olavo de Carvalho. A realidade do país é outra. Ela se apresenta em toda a sua dureza, por exemplo, na Fortaleza acossada pelo crime. Neste caso, diga- se de passagem, apesar de muxoxos radicais aqui e ali, pelo fato de o governador cearense ser do PT, o Planalto, pelas mãos de Bolsonaro e Sergio Moro, moveu- se rápida e corretamente no envio da Força Nacional para amparar o povo cearense, que nada tem a ver com rivalidades políticas.
Aos trancos e barrancos, o governo vai percebendo também que as redes sociais, relevantes na eleição de Bolsonaro, são incapazes de organizar a comunicação essencial para se gerir o país e manter a população informada sobre os atos federais.
Enquanto membros do círculo íntimo do poder se gabam das dezenas ou mesmo centenas de milhares de compartilhamentos de seus posts, fica cada vez mais evidente que o alcance desse tipo de comunicação é modestíssimo em um país com mais de 200 milhões de almas. As diversas entrevistas do primeiro escalão, bem como as de Bolsonaro, demonstram que o governo está aprendendo a se fazer entender e corrigir alguns de seus equívocos e exageros, embora nitidamente faltem estratégias claras de comunicação e organização interna. Descontadas a inexperiência e a inabilidade previsíveis dos primeiros dias, é fundamental que o governo se entenda o quanto antes, para não queimar em marcha acelerada o crédito político necessário para levar adiante as reformas e transformações pelas quais o país votou em massa.