Por Ricardo Hingel, economista
Em 2007, durante a preparação da abertura de capital do Banrisul, um dos representantes dos bancos que trabalhou na estruturação da operação disse que, apesar do avanço das telecomunicações e dos canais virtuais disponíveis, os negócios ainda eram feitos como na época de Marco Polo ou das caravelas, onde o “olho no olho” era o mais eficiente. Por 27 dias, visitamos investidores no Brasil e no Exterior, e a venda das ações, que a valores da época representou próximo de US$ 1,1 bilhão, não teria tido sucesso sem o “olho no olho” com os investidores.
A lembrança é importante em função do crescimento dos canais alternativos de comunicações, que se diversificaram ao longo dos anos, evoluindo do telefone ao e-mail, para salas virtuais, ao Orkut e Facebook, ao Google e seus concorrentes, ao MSN e WhatsApp e outros tantos que deram grande dinamismo aos contatos entre pessoas e empresas. Todas as mídias surgidas foram também bastante exploradas e suportadas como importantes canais alternativos e inovadores de vendas, desde a propaganda até a comercialização migraram dos formatos tradicionais para as alternativas oferecidas pelo mundo virtual.
A relação entre as pessoas também foi sendo alterada, principalmente em decorrência da facilidade de acesso e da velocidade destas novas ferramentas. Por outro lado, o uso destas aplicações trouxe, a meu ver, um prejuízo para as relações, pela maior superficialidade com que estas passaram a se dar, especialmente pela forma predominantemente resumida na troca de mensagens e informações, nas quais o contato pessoal e o “olho no olho” são substituídos por textos curtos e sumários, mal explicados e que, não raro, geram confusões, más compreensões e, frequentemente, desentendimentos.
O que temos hoje como resultado são relações superficiais e insuficientes, fruto da troca das relações diretas pelas vantagens de ferramentas mais dinâmicas e velozes. O contato pessoal e o “olho no olho” qualificam qualquer entendimento e edificam as relações pessoais e empresariais, pois melhoram qualquer diálogo ou discussão e solidificam as pontes que devemos construir ao longo do tempo. Pessoas e empresas são resultados da qualidade das pontes que constroem durante a vida. As pontes são os canais que são construídos ao longo do tempo. Muitos sabem construir pontes, outros não sabem e muitos as destroem. A forma como nos comunicamos e sua qualidade são fundamentais nesta construção e a forma superficial, impessoal e formal com que a maior parte destas mídias alternativas funcionam nem sempre constrói as melhores pontes.