Por Pedro Dutra Fonseca, professor titular do Departamento de Economia e Relações Internacionais da UFRGS
O clichê do título sintetiza este último mês do governo Temer. Para começar, com a abertura de 100% do mercado aéreo a empresas estrangeiras. Sem nacionalismo romântico ou xenofobia: tal decisão ninguém toma de graça, mormente com o ativo valioso de um mercado, segundo a Anac, de 110 milhões de passageiros. Jogo de sete erros: (1) atropelou o Congresso, que discutia a questão; (2) direto a 100%, quando poderia ser parcial; (3) de forma abrupta, quando poderia ser gradual; (4) pega as empresas brasileiras frágeis, com a recessão; (5) ignorou planos da Azul, a mais bem-sucedida empresa aérea dos últimos anos; (6) reforça a oligopolização e, com isso, os altos preços de passagens e fretes; e (7) não exigiu reciprocidade do comprador, regra elementar de comércio no setor – o que é mais grave.
Aproveitando a fragilidade do Executivo, o Congresso, ao elaborar o orçamento, reproduziu cena típica do presidencialismo brasileiro: gastos sem contrapartida de receita, deixando uma bomba para o futuro governo e para o país. E a contar que o atual começou com o impeachment e afirmando que, com credibilidade e austeridade, o crescimento viria. Nem uma coisa, nem outra. O único saldo positivo é a inflação baixa, mas a custa de 13 milhões de desempregados, da maior recessão da história e de déficit recorde. A credibilidade perdera já na primeira semana: para o ministério, que era para ser de notáveis, nomeou vários processados por corrupção. Mesmo assim, contou com bônus suficiente para aprovar a reforma trabalhista e a lei de limite dos gastos.
A primeira prometia mais empregos e, a segunda, controle do déficit primário. Nem uma coisa, nem outra. O déficit aumentou. Mesmo os subsídios e desonerações a setores específicos e duvidosos, a “bolsa empresário” – erro herdado dos governos petistas – quis reverter. Ao contrário, ampliou. Ora chega a R$ 370 bilhões. A área econômica é contra, mas sabe que não terá respaldo para veto: o chefe, ao apagar das luzes, não vai fazer o que não fez até agora. Claro que não teria base para reformar a Previdência, pois como cortar pensões de quem descontou durante anos dos salários, quando outros ganham de graça? Os novos governantes assumem com a responsabilidade de reverter a desesperança, diante de uma nação dividida e radicalizada.