Por Luciana Kraemer, professora de Jornalismo e Curso de Realização Audiovisual (Unisinos), doutoranda PGIE-UFRGS
Acompanhei a manifestação dos adolescentes atravessada pela maternidade e pela docência. Como mãe de duas meninas, vi o olhar de admiração da mais velha pelas colegas da antiga escola que usaram o horário do intervalo para se expressar. Ainda no campo materno, percebi pais preocupados com o excessivo espaço que a política poderia estar ocupando na formação dos filhos. Desde então uma imagem não me sai da cabeça: era 1984. No pátio da minha escola, também na hora do intervalo, um aluno grita: pessoal, hoje vai ser votada a emenda Dante de Oliveira, que prevê eleições diretas para presidente! É um dia histórico! O aplauso foi geral, uma alegria tomou conta. Ali, embaixo daquele caramanchão, a gente se sentia vivo. Não teve professor na jogada, o intervalo terminou, e a consequência subversiva disso foi um enorme sorriso, que teimava em não sair da nossa expressão.
Que triste a escola que não oportuniza a chance de seus estudantes sonharem, chorarem, debaterem livremente sobre o presente e o futuro. Num tempo em que boa parte da vida deles se passa na web – cheia de riscos – a escola é o lugar mais seguro, o espaço mais preparado para mediar as possibilidades do olhar.
O que preocupa é o clima de ameaça que hoje ronda todos os espaços de ensino, a suspeição sobre o papel dos professores, o questionamento sobre o sentido de autonomia. Não deveria ser necessário, mas é preciso lembrar que a liberdade é vital para criar métodos pedagógicos e modos de pensar a sala de aula. Mas, claro, não governa sozinha. A autonomia está condicionada à Constituição Federal e a uma série de leis, normas, regimentos internos, planos, metas, reuniões, enfim. Está em jogo também a cultura de cada instituição.
Por certo que a escola não é imune a questionamentos e erros, mas é preciso cuidar a dose, para que a atenção não ganhe o tom de censura, cerceamento. No lugar de prevenir, o remédio pode ter como consequência a secura. Quando o olho de um professor para de brilhar, a escola perde a poesia. E como diz aquele professor de literatura que refundou a sociedade dos poetas mortos, nada contra as demais matérias, mas é a poesia que nos mantêm vivos.