Depois dos questionamentos de correligionários do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), agora são os defensores da candidatura Fernando Haddad (PT) que começam a se antecipar, articulando-se para possíveis contestações sobre a voz das urnas em caso de derrota no pleito do próximo domingo. A estratégia está baseada numa narrativa de "fraude eleitoral", a partir de denúncias de que a candidatura do PSL vem sendo decisivamente impulsionada nas redes sociais por empresas do setor privado, o que configuraria crime eleitoral.
O caminho para se aquilatar qualquer suposta fraude – e sua real dimensão – são a devida investigação policial e o processo judicial, como, aliás, já está se procedendo no caso do WhatsApp. As instituições, incluindo as que atuam na área eleitoral, funcionam adequadamente.
O que preocupa é a insistência, agora lugar-comum entre quem não aceita a condição de perdedor e não consegue sequer se imaginar no papel de oposição, em colocar em xeque a vontade da maioria. Com flagrantes evidências de uso de desinformações por apoiadores de ambas as candidaturas, é preciso respeitar o resultado das urnas, seja ele qual for. Eventuais contestações, como as que começam a se ensaiar desde já, demonstram, em última análise, falta de apreço pela democracia e pelo desejo popular que emergir no próximo dia 28.
Habituado a denunciar "golpes", o PT tentou inclusive emplacar a ideia de uma "frente democrática", que na prática se mostrou inviável e, pelo que indicam as pesquisas de opinião pública, ainda não conseguiu reverter a vantagem demonstrada pela candidatura Bolsonaro. Nas eleições passadas, lembre-se, foi o próprio PT vítima destas conjecturas, quando o candidato derrotado Aécio Neves rejeitou o resultado das urnas. Se, como apregoam, desejam mesmo o aprofundamento da democracia, o caminho correto de qualquer partido – seja PSL, PT ou PDT – é deixar que as instituições republicanas façam seu trabalho, cuja isenção e eficácia, aliás, foi reconhecida por comissão designada pela Organização dos Estados Americanos (OEA) para acompanhar as eleições no primeiro turno.
A urna eleitoral é confiável e o processo eleitoral brasileiro tem o endosso de um Judiciário desatrelado de paixões partidárias. Portanto, os resultados não podem ser reconhecidos apenas quando convêm para uma das partes. A democracia brasileira não tem dono, não pertence a um ou outro partido, e quem toma as decisões em seu nome são os eleitores, pela vontade da maioria.