Por Vinícius Mendes Lima, professor e escritor
No Brasil, a definição convencional de favela é o tipo de bairro popular, com moradias precárias, falta de infraestrutura e informalidade. O desafio que proponho, agora, é subverter o modo de perceber esta aglomeração de casas e pessoas.
São 12 milhões de pessoas plenas em suas capacidades produtivas que, se morassem em um mesmo Estado brasileiro, seria o quinto em população. Quatro em cada 10 habitantes querem fazer faculdade, 62% desejam frequentar um curso profissionalizante e 70% asseguram que, se tivessem o dobro de dinheiro, continuariam vivendo em suas comunidades. Quatro em cada 10 têm a intenção de abrir o próprio negócio e, desse grupo, 63% quer fazê-lo dentro da favela.
Em 10 anos, a massa de renda nas favelas cresceu mais de 50%, totalizando, segundo estudo de 2015 do Instituto Data Favela, R$ 68 bilhões em circulação a cada ano ou maior do que a de 15 unidades da Federação.
Esse potencial é o que o indiano C.K Prahalad, especialista em estratégia empresarial e professor da Universidade de Michigan, batizou de “empreendedorismo na base de pirâmide”. Trata-se de uma linha de pensamento que vê o lucro por meio da inclusão das camadas de baixa renda ao mercado consumidor, deixando de enxergá-las apenas como um recorte de vulneráveis e pobres. Uma das estratégias de Prahalad que vem ganhando espaço em grandes empresas é a de o mercado precisar desenvolver produtos e serviços ao alcance dessas pessoas. Contribuir para que possam se desenvolver vai gerar crescimento da economia, aumento da renda mensal desta camada e, enfim, girar o círculo harmonioso.
Essa lógica do empreendedorismo pode ser aplicada com diferentes públicos. Serve para apenados e para profissionais que estão concluindo um curso superior e querem ser donos do próprio negócio sem ter a menor ideia de por onde começar.
E tem chance para dar resultado se a corresponsabilidade for exercitada. Estimular uma atitude realizadora vale para todos: legisladores e governantes, com certeza. Porém, não se restringe a eles. Inicia-se pelos pais, passa pela escola e pelos empresários.