É promissor para um Estado historicamente dividido sob o ponto de vista político que Eduardo Leite (PSDB), eleito governador com mais de 3 milhões de votos dos gaúchos, privilegie a disposição total para o diálogo. A partir da confirmação da escolha de seu nome para o Piratini, o futuro gestor do Estado tem insistido na intenção de buscar resultados por meio da conversação, sem abrir mão de suas convicções. A particularidade de a campanha eleitoral ter ocorrido sem confrontos e sem polarização, fato inédito na história recente, favorece o entendimento.
O clima favorável começou com o gesto nobre do governador José Ivo Sartori de se dirigir ao sucessor cumprimentando-o pela vitória, abrindo caminho para um período de transição marcado pela cordialidade. Em sua atual e na nova composição, a Assembleia precisa incorporar esse espírito. O Legislativo gaúcho terá papel fundamental em relação aos projetos do governo Eduardo Leite. Os deputados precisarão pensar mais no coletivo e menos nos interesses setoriais e individuais.
O Estado só avançará se cada um abrir mão de algo na busca do coletivo. E há desafios enormes pela frente. O Rio Grande do Sul já é hoje o que o Brasil pode ser se o país não fizer as reformas que o Estado não fez. Nesse cenário conturbado, o governador eleito tem a seu favor, em grande parte graças ao trabalho da equipe do atual governo, a compreensão das enormes dificuldades fiscais do setor público gaúcho. O governo que chega ao fim em dezembro deixa o terreno preparado tanto para projetos de reformas importantes com o objetivo de conferir maior eficiência à máquina pública quanto para as negociações com o Planalto relacionadas ao plano de recuperação fiscal do Estado. Avançar nesses pontos com o Legislativo é precondição para que o futuro governo gaúcho possa colocar em prática seus projetos de campanha. Entre eles, inclui-se a questão da segurança pública, apontada como prioridade absoluta pelo candidato vencedor ao longo da campanha.
Em suas primeiras manifestações depois da apuração das urnas, o governador eleito disse que pretende compensar a falta de maioria parlamentar assegurando a governabilidade com base numa agenda bem definida. O Estado precisa ganhar tempo para avançar, reduzindo o peso da carga do setor público para favorecer a retomada do crescimento, num ambiente de mais segurança e mais estabilidade.