Em uma clara mensagem das urnas, com 11 milhões de votos de diferença, o Brasil que escolheu Jair Bolsonaro se manifestou de forma contundente a favor de mudanças profundas em um modelo político que há décadas fundamenta a governabilidade em coalizões artificiais e interesses de ocasião. As urnas também evidenciaram que a maioria do país decidiu rejeitar, mais que um candidato improvisado no vácuo de Lula, os métodos de seu partido e seus satélites, que aparelharam o Estado para fazer valer o domínio político, substituíram um projeto de país por um projeto de poder e se mostraram lenientes com a corrupção, além de inertes diante do avanço da criminalidade.
Neste início de semana, porém, a votação de domingo já terá ido para o calendário da história. Há tantos desafios pela frente que o novo presidente tem de começar a trabalhar imediatamente na direção que a maioria do eleitorado avalizou. E o Brasil escolheu um candidato que explicitou com todas as letras o compromisso de reduzir o tamanho do Estado e o poder de Brasília, de eliminar privilégios, de privatizar em massa empresas estatais e de dar fim ao balcão de negócios como método de obter maioria no Congresso.
A partir de agora, apesar de todas as restrições que se possa ter à trajetória e posições do deputado, Bolsonaro passa a ser o presidente eleito de 209 milhões de brasileiros. A democracia falou e, em alto e bom som, optou por Bolsonaro. Portanto, como todos coabitam a mesma nação, o eleito precisa de um voto de confiança para implementar seu plano de governo, e dar impulso a um país atolado na estagnação econômica, no gigantismo estatal e nas práticas cartoriais, clientelistas e intervencionistas. Para tanto, Bolsonaro deverá superar o discurso da campanha e, sem contradizê-lo, dar sinais de que trabalhará para todos os brasileiros, e não apenas para os que o apoiaram.
A hora é de desarmar espíritos em nome do bem comum e de enterrar discursos do medo, como o de que a democracia está ameaçada. O Brasil polarizado deve depor os ranços e ódios para que se chegue a consensos mínimos e se possa endereçar as reformas com que o eleito se comprometeu, e sem as quais o país marchará para uma crise ainda maior, com agravamento do desemprego e da violência.
A favor de um denominador comum, o novo governo chegará ao Planalto sem estar em débito com as tradicionais forças politicas e com o aval de mais de 56 milhões de eleitores. Apesar do amplo apoio, nenhum eleito conquista um cheque em branco. Para aprovar as mudanças no Congresso, Bolsonaro precisará confirmar na prática o compromisso de respeito à Constituição, além de moderar sua linguagem e ajustá-la à liturgia da Presidência, como, aliás, demonstrou já no primeiro discurso como eleito. O uso da faixa presidencial no Brasil de hoje exige, por exemplo, a condenação explícita a atos violentos e a preconceitos de toda espécie, a defesa do meio ambiente, a inclusão de todos os brasileiros e a absorção, com naturalidade democrática, das eventuais divergências, aí incluídas as manifestadas pela imprensa e pelo Judiciário.
Não é pouco o que Bolsonaro tem diante de si para fazer jus à confiança e empolgação da maioria dos eleitores. Vencedor, ele precisa recuperar também a imagem externa do país, desgastada pela criminalidade, pela corrupção e por seu próprio palavreado destemperado. Se o eleito não incorrer nos mesmos equívocos de líderes petistas, que confundiram a vitória nas urnas com um passe livre para a apropriação do aparato público, ele já terá dado um grande passo. A direção está clara. Jair Messias Bolsonaro deve agora fazer valer seu compromisso público com a Constituição, reafirmado no discurso da noite de domingo, e, governando para todos, recolocar o Brasil nos trilhos do desenvolvimento.