Por Antônio Britto, ex-governador do Estado
Em um país saudável, a eleição é a oportunidade de construção de uma esperança organizada. Esperança que mobiliza as pessoas, redescobre nelas a crença em que o país e a vida podem ser melhores. Organizada porque baseada em algumas ideias e propostas para as quais forma apoio e maioria.
Na recente história da democracia no Brasil, nunca tivemos um momento em que dependêssemos tanto e tão dramaticamente de uma eleição. Infelizmente, porém, caminhamos na direção contrária. Quem tiver um pouco de juízo e independência verá que não vamos eleger alguém e, sim, derrotar o outro, que consideramos ainda pior.
Agregue-se o fato de que, de acordo com as pesquisas, caminhamos na direção contrária à moderação e ao centro, onde está a maioria dos brasileiros, experiência que costuma trazer péssimos resultados. Lula, para citar um exemplo, apenas se viabilizou para vencer e governar quando entendeu a necessidade de construir um programa que a maioria aceite e não o que o partido exija.
Hoje o mesmo Lula determina de Curitiba um único projeto – o sebastianismo. E, ironicamente, Haddad, o mais centrista dos petistas, vira o radical que não é e produz, querendo ou não, divisão e ódio.
Do outro lado, o desencanto da população e o anseio por paz e ordem deságuam na pior das respostas: a negação da base moral e política de qualquer país – o respeito à divergência e à diversidade. Não se trata de uma candidatura conservadora, o que seria aceitável e talvez necessário. É uma proposta que, querendo ou não, também gera o ódio e a divisão.
Se a eleição fosse um fim em si mesma, seria triste mas não seria perigoso. O problema é que a realidade brasileira estará de volta em janeiro de 2019 sem que esse tipo de eleição contribua para o que precisamos: um governo respeitado, apoiado por maioria construída a partir de convicções, com força política e moral para enfrentar os balcões do congresso e exercer o mandato diante da pior crise e dos mais graves desafios que o Brasil conheceu desde a redemocratização.
Senhores: outubro só serve se ajudar janeiro...