Países de realidades diferentes sob o ponto de vista de território e de população, mas com problemas sociais semelhantes têm muito a ensinar ao Brasil quando o assunto é combate à criminalidade. É o caso de Chile, única nação da América Latina a figurar entre as 30 mais seguras do mundo em rankings globais sobre violência. É o caso também da Colômbia, que ainda nos anos 1990 era conhecida pela violência em cidades como Medellín, na época considerada a mais perigosa do mundo, em consequência da ação de guerrilheiros e do narcotráfico, e a própria capital Bogotá. Os dois exemplos deveriam inspirar o Estado e o Brasil.
Os avanços registrados nos países vizinhos permitem a moradores de Santiago do Chile se alegrarem pelo simples fato de poderem circular na rua, sem maiores riscos, com um celular na mão. No caso colombiano, brasileiros residentes em Medellín chegam a se sentir mais seguros na cidade do que em São Paulo. Nada disso, obviamente, ocorre por acaso.
O Chile só conquistou a pacificação nas ruas porque promoveu uma reforma da segurança ainda nos anos 1990. E o governo do presidente Sebastián Piñera já planeja aprofundar as mudanças – questões sobre as quais o Brasil ainda nem parou para pensar. Essas ações ajudam a explicar o fato de o Chile registrar três homicídios a cada 100 mil habitantes. As metodologias são diferentes, mas no Rio Grande do Sul a proporção é de 25,3 homicídios para cada 100 mil habitantes, conforme o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2018.
Em ambos os países tomados como exemplo de administração pública em uma série que vem sendo publicada por Zero Hora, houve uma ampla atualização do Código de Processo Penal, com uma redefinição do papel do Ministério Público no combate ao crime. O reequipamento das polícias e investimentos elevados em inteligência, além de um processo de aproximação das forças de segurança com as comunidades, também se transformaram em prioridade.
Os exemplos bem sucedidos de redução da criminalidade em países como Chile e Colômbia precisam servir de inspiração para o Estado e o país. No Rio Grande do Sul, pelo menos um aspecto importante desses modelos já começa a ser levado a sério: uma boa relação entre os setores público e privado. A preocupação fica visível a partir da iniciativa de líderes empresariais locais de destinar recursos para facilitar a atuação dos policiais. Mas ainda há muito a avançar tanto no Estado quanto no país, a começar por um melhor uso das estatísticas para facilitar a prevenção e o combate ao crime.